Às 20h e 45min do primeiro dia de fevereiro chegamos em casa. Quase 15 mil quilômetros vencidos com alegria em cada metro. Tudo foi perfeito. Até a chegada tangenciou os problemas nas estradas decorrentes da chuvarada. Não perdemos mais do que 15 minutos no acesso da BR 282 à BR 101.
44 dias sem horários, com os destinos de cada dia sendo definidos no caminho. “Viajante, não há caminho, se faz o caminho ao caminhar”. Mais de 150 horas em movimento nas “rutas”, destampando horizontes, descobrindo paisagens, percebendo as energias distintas dos lados austrais com seus ventos persistentes, seu frio permanente, seus sabores marcantes, suas gentes diversas.
Últimas paradas
De Colônia Del Sacramento saímos para Montevideo. Cidade já conhecida, para se matar a saudade. Programação limitada a um despreocupado passeio pela “rambla”, uma visita ao Teatro Sólis e, é claro, uma parilla no Mercado Del Puerto.
Uma noite bem dormida e partimos para a fronteira para entrar no Brasil por Santana do Livramento, depois de cruzar o Uruguai inteiro num trajeto de pouco mais de 500 km. Para fazer os trâmites de migração (carimbar passaporte) precisamos procurar a aduana escondida numa avenida de Rivera.
Depois de uma noite bem dormida e o primeiro café da manhã sem “medialunas”, demos uma caminhada pelo free-shop de Rivera e partimos para Santa Maria.
No final de um roteiro que passou por pontos e paisagens exuberantes o feijãozinho da mãe não faz feio. Primeiro porque os hermanos parecem desconhecer o que seja feijão; segundo porque no final de uma grande jornada sempre há uma mãe esperando. E a dona Norma não deixa por menos.
A vida
Foi muito mais do que férias. Foi oportunidade de pensar na vida, de perceber que a felicidade não depende dos lugares, mas só da gente. É verdade que estes dias felizes foram emoldurados pelo que a natureza fez de melhor, mas agora é a vida, o trabalho e as coisas de todos os dias. Há quem diga que é a “vida real”, mas achamos que é só a vida, esta dádiva que a que a gente vive em cada instante e cada lugar, fazendo tudo para ser feliz.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
sábado, 26 de janeiro de 2008
Do café de Borges ao terraço de Colônia
Buenos Aires continua linda. Os cafés continuam bons. As praças floridas. E a Calle Florida cheia de brasileiros fazendo fila para comprar coisas da Puma.
Nos andares superiores da charmosa Galeria Pacífico há o Centro Cultural Borges. É como se a turba de turistas não conseguisse avançar aqueles pavimentos onde se pode ver tranqüilamente a exposição de Juan Miró. Os traços e pinceladas de uma simplicidade imaculada sugerem pensar sobre a busca da essência e o que fazemos da vida.
Uma das coisas boas de Buenos Aires é andar a pé. Melhor ainda quando é uma cidade que já se conhece um pouco, o que dispensa alguns rituais turísticos. No circuito do centro, entre a Plaza de Mayo e Plaza de Los Congressos é gostoso de caminhar. A cidade aparece inteira em cada esquina, nas belezas e veleidades. Para ir além recorremos à gigantesca frota de taxis pretos e amarelos que tangem alucinadamente os obstáculos em fininhos que contorcem os nervos.
Num taxi destes chegamos à Recoleta. Em suas praças limpas de gramados lustroso, portenhos semi nus se esbaldam sob o sol do meio dia. No centro cultural do bairro lojas de design doméstico e restaurantes confiáveis. Um costela de cordeiro com molho de menta nos cativou e fez anotar a receita.
Duas quadras e entramos no Museu de Belas Artes de Buenos Aires. Passamos a maior parte da tarde imersos em obras de artistas famosos. Rubens, Picaso, Rodin, Rivera, Van Gogh foram as nossas companhias.
A noite é em San Telmo. O bairro das tanguerias, dos antiquários e galerias de arte. Onde há show de tango há uma van ou um ônibus descarregando turistas (a maior parte idosos) que formam fila para jantares espetáculos geralmente caros.
Mas isto não é tudo de Buenos Aires. Há o que não é espetáculo, o que é a metrópole moderna e seus prédios velhos clássicos e neoclássicos. Há gente de todo tipo e velocidades distintas. Há os “passeadores de perros” pelas ruas. Há livrarias e muitas bancas de jornal. Há o que só Buenos Aires consegue ser. Aquelas coisas das quais só se pode despedir-se tomando um “espresso doble”, como fazia Borges, no café Tortoni.
Colônia
Embarcamos o Capitão Rodrigo num barco para cruzar o Rio da Prata e chegar ao Uruguai. Em Colônia Del Sacramento o escritório de turismo eficiente nos indicou uma pousada delicada no centro histórico. Quarto bem ajeitado com vista para o rio.
A poucos metros da pousada um centro de lojinhas vende orgulhosamente peças de decoração de designers locais. E pode se orgulhar, mesmo. O vigor criativo, notoriamente inspirado em Torres Garcia, está em cada peça. Não há aquele apelo artesanal, a ambição é universalista, fala mais da vida.
E a vida em Colônia passa devagar. O bom mesmo é vagar pelas ruas calçadas com pedras velhas como o tempo, entre as casinhas decoradas com azulejos portugueses em seus pátios espanhóis. A cidade é cheia de motoquinhas e lambretas, espécie de meio de locomoção oficial dos locais e turistas, que as alugam em qualquer esquina.
Na primeira noite, em uma pracinha antiga, o restaurante Casa Grande anunciava noite de paella e flamenco. Ficamos. Tudo aconteceu na rua. O chef montou seus apetrechos na calçada e fez ali mesmo um paella típica. Ao seu lado, um trio de músicos competentes tocava Paco de Luccia. A simbiose som-sabor se espalhou e chegou na mesa na forma de cumbucas generosamente servidas com o prato valenciano.
Ainda entramos um pedaço da madrugada fotografando as ruelas com luminárias coloniais que transforma as ruas de Colônia num pequeno espetáculo noturno.
A cidade está cheia de turistas. Para ficar mais um dia precisamos trocar a pousada por um quarto aconchegante alugado por uma família. Na hora de “la siesta” temos o privilégio de escrever este post num terraço, numa cômoda poltrona com vista para o rio. Todo escritor deveria morar em Colônia.
Nos andares superiores da charmosa Galeria Pacífico há o Centro Cultural Borges. É como se a turba de turistas não conseguisse avançar aqueles pavimentos onde se pode ver tranqüilamente a exposição de Juan Miró. Os traços e pinceladas de uma simplicidade imaculada sugerem pensar sobre a busca da essência e o que fazemos da vida.
Uma das coisas boas de Buenos Aires é andar a pé. Melhor ainda quando é uma cidade que já se conhece um pouco, o que dispensa alguns rituais turísticos. No circuito do centro, entre a Plaza de Mayo e Plaza de Los Congressos é gostoso de caminhar. A cidade aparece inteira em cada esquina, nas belezas e veleidades. Para ir além recorremos à gigantesca frota de taxis pretos e amarelos que tangem alucinadamente os obstáculos em fininhos que contorcem os nervos.
Num taxi destes chegamos à Recoleta. Em suas praças limpas de gramados lustroso, portenhos semi nus se esbaldam sob o sol do meio dia. No centro cultural do bairro lojas de design doméstico e restaurantes confiáveis. Um costela de cordeiro com molho de menta nos cativou e fez anotar a receita.
Duas quadras e entramos no Museu de Belas Artes de Buenos Aires. Passamos a maior parte da tarde imersos em obras de artistas famosos. Rubens, Picaso, Rodin, Rivera, Van Gogh foram as nossas companhias.
A noite é em San Telmo. O bairro das tanguerias, dos antiquários e galerias de arte. Onde há show de tango há uma van ou um ônibus descarregando turistas (a maior parte idosos) que formam fila para jantares espetáculos geralmente caros.
Mas isto não é tudo de Buenos Aires. Há o que não é espetáculo, o que é a metrópole moderna e seus prédios velhos clássicos e neoclássicos. Há gente de todo tipo e velocidades distintas. Há os “passeadores de perros” pelas ruas. Há livrarias e muitas bancas de jornal. Há o que só Buenos Aires consegue ser. Aquelas coisas das quais só se pode despedir-se tomando um “espresso doble”, como fazia Borges, no café Tortoni.
Colônia
Embarcamos o Capitão Rodrigo num barco para cruzar o Rio da Prata e chegar ao Uruguai. Em Colônia Del Sacramento o escritório de turismo eficiente nos indicou uma pousada delicada no centro histórico. Quarto bem ajeitado com vista para o rio.
A poucos metros da pousada um centro de lojinhas vende orgulhosamente peças de decoração de designers locais. E pode se orgulhar, mesmo. O vigor criativo, notoriamente inspirado em Torres Garcia, está em cada peça. Não há aquele apelo artesanal, a ambição é universalista, fala mais da vida.
E a vida em Colônia passa devagar. O bom mesmo é vagar pelas ruas calçadas com pedras velhas como o tempo, entre as casinhas decoradas com azulejos portugueses em seus pátios espanhóis. A cidade é cheia de motoquinhas e lambretas, espécie de meio de locomoção oficial dos locais e turistas, que as alugam em qualquer esquina.
Na primeira noite, em uma pracinha antiga, o restaurante Casa Grande anunciava noite de paella e flamenco. Ficamos. Tudo aconteceu na rua. O chef montou seus apetrechos na calçada e fez ali mesmo um paella típica. Ao seu lado, um trio de músicos competentes tocava Paco de Luccia. A simbiose som-sabor se espalhou e chegou na mesa na forma de cumbucas generosamente servidas com o prato valenciano.
Ainda entramos um pedaço da madrugada fotografando as ruelas com luminárias coloniais que transforma as ruas de Colônia num pequeno espetáculo noturno.
A cidade está cheia de turistas. Para ficar mais um dia precisamos trocar a pousada por um quarto aconchegante alugado por uma família. Na hora de “la siesta” temos o privilégio de escrever este post num terraço, numa cômoda poltrona com vista para o rio. Todo escritor deveria morar em Colônia.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Aires portenhos
Chegamos a Buenos Aires. Foram dois dias de estrada com a paisagem vai “cambiando” aos poucos. Como se a já saudosa Patagônia fosse se desfazendo aos poucos até cruzarmos o rio Colorado e adentrarmos oficialmente no pampa. Pegamos um poço de chuva no caminho, mas nada desagradável. Os casacos quentes voltaram para as malas e as bermudas e camisetas voltaram a ser a roupa oficial. Nem o ar condicionado no frio máximo se aproxima dos 3 graus de Ushuaia. Agora faz 26 graus na Capital Federal.
Chegamos de tarde no trânsito enlouquecido da metrópole. Levamos algum tempo até nos localizarmos, sempre com a ajuda fiel e eficiente da Amália. Chegamos a um hotel perto da Corrientes, a avenida dos teatros e livrarias. Como já podemos colocar no currículo que dirigimos no meio do caos, colocamos o Capitão na garagem e vamos adotar o taxi como meio de transporte oficial.
Só tivemos tempo de dar uma caminhada pela Avenida de Maio e pela própria Corrientes, repleta de luminosos e agitação. Mas já descobrimos que há uma exposição de Miró na cidade.
Este post é só para dizer que chegamos. “Manhana tempranito” vamos abraçar a cidade.
Chegamos de tarde no trânsito enlouquecido da metrópole. Levamos algum tempo até nos localizarmos, sempre com a ajuda fiel e eficiente da Amália. Chegamos a um hotel perto da Corrientes, a avenida dos teatros e livrarias. Como já podemos colocar no currículo que dirigimos no meio do caos, colocamos o Capitão na garagem e vamos adotar o taxi como meio de transporte oficial.
Só tivemos tempo de dar uma caminhada pela Avenida de Maio e pela própria Corrientes, repleta de luminosos e agitação. Mas já descobrimos que há uma exposição de Miró na cidade.
Este post é só para dizer que chegamos. “Manhana tempranito” vamos abraçar a cidade.
domingo, 20 de janeiro de 2008
Pingüins, lobos e elefantes
Os últimos três dias foram dedicados a pingüins, lobos marinhos e elefantes marinhos. As escalas foram nas reservas de Dos Bahias, Punta Tombo e Península de Valdés.
A primeira parada foi em Camarones. Com seus 1200 habitantes e localizada na beira do mar, a cidade tem lá sua simpatia. Pelos menos o suficiente para compensar os mais de 130 km de ripio que levam até ela. A cidade tem, além da pingüineira, o título de Capital do Salmão anunciado na entrada por um monumento de mau gosto com um enorme peixe morto sobre uma pedra.
Na Oficina de Turismo descobrimos que o melhor lugar da cidade para comer e passar a noite era o camping municipal, ao lado do prédio e na beira do mar. Depois notamos que havia um hotel com restaurante, mais caro do que muito hotel de cidade grande que passamos. Ficamos no camping.
O salmão de Camarones é estranho. Chamam de Salmão Branco e em nada lembra a carne rosada que estamos acostumados a ver. O peixe tem escamas (o outro tem couro) e seu sabor lembra um pouco a garoupa, embora mais tenra. A sua preparação pela senhora que administra o camping é simples, só grelhado com algumas ervas, mas o resultado é bom. Pedimos também uma picada de mariscos, que é servida fria com mexilhões, lagostins, vieiras, rodelas de lula e mariscos. Tudo numa espécie de escabeche. Soninha resolveu misturar os elementos da picada com alface e tomate e a transformou numa salada muito interessante. Só faltou um azeite de oliva de boa qualidade, quem deve existir em Camarones.
30 km (de ripio, é lógico) nos levaram à Reserva Dos Bahias, onde 80 mil pingüins de Magalhães procriam. São duas colinas um pouco longe da praia com muitos arbustos e cheias de tocas. Em cada uma delas um casal com um ou mais filhotes. Caminhos sinalizados e passarelas conduzem os visitantes pelo meio do habitat. A barulheira é grande. As aves grasnam e andam de lá para cá, sobem nas passarelas, se aproximam dos humanos cheios de curiosidade. Para fotografar é uma festa.
No dia seguinte, mais pingüins. Desta vez em Punta Tombo, a maior pingüineira de magalhanicos do mundo. O esquema é parecido com o de Canarones, mas há quem diga que são um milhão de aves. Como a área é muito maior, a sensação é que a reserva visitada anteriormente é mais divertida, com mais pingüins próximos e mais assanhados, embora em Tombo eles também andem pelas passarelas com desenvoltura e despreocupação. A diferença é que há muito mais turistas e, por isto, menos sossego.
No final do dia chegamos a Puerto Madryn, que é uma cidade grande e cheia de graça na beira mar. É o ponto de acesso à Península de Valdés, Patrimônio Natural da Humanidade há 70 km do centro. Dentro do parque as estradas são de ripio e somam 250 km entre os “miradores” públicos. Janeiro não é boa época para visitar a península, pois a principal atração do parque, as baleias francas, estão ausentes, reproduzindo nas costas do nordeste brasileiros. Mas ver as colônias de lobos e elefantes marinhos procriando já vale a pena. Há uma pingüineira que parece modesta diante das já avistadas. As paisagens são estupendas até para quem está acostumado com cenários marinhos. A cor do mar é exageradamente azul e tudo transmite uma enorme paz. Num dos estacionamentos tatus e raposas corriam entre os carros sem abalarem-se com a turistada.
Passamos um dia inteiro percorrendo a península e voltamos a Puerto Madryn para recuperar as forças e retornar à Ruta 3 que, em dois dias, nos colocará em Buenos Aires.
Adiós, Patagônia. A fase Animal Planet de nossa viagem acabou.
A primeira parada foi em Camarones. Com seus 1200 habitantes e localizada na beira do mar, a cidade tem lá sua simpatia. Pelos menos o suficiente para compensar os mais de 130 km de ripio que levam até ela. A cidade tem, além da pingüineira, o título de Capital do Salmão anunciado na entrada por um monumento de mau gosto com um enorme peixe morto sobre uma pedra.
Na Oficina de Turismo descobrimos que o melhor lugar da cidade para comer e passar a noite era o camping municipal, ao lado do prédio e na beira do mar. Depois notamos que havia um hotel com restaurante, mais caro do que muito hotel de cidade grande que passamos. Ficamos no camping.
O salmão de Camarones é estranho. Chamam de Salmão Branco e em nada lembra a carne rosada que estamos acostumados a ver. O peixe tem escamas (o outro tem couro) e seu sabor lembra um pouco a garoupa, embora mais tenra. A sua preparação pela senhora que administra o camping é simples, só grelhado com algumas ervas, mas o resultado é bom. Pedimos também uma picada de mariscos, que é servida fria com mexilhões, lagostins, vieiras, rodelas de lula e mariscos. Tudo numa espécie de escabeche. Soninha resolveu misturar os elementos da picada com alface e tomate e a transformou numa salada muito interessante. Só faltou um azeite de oliva de boa qualidade, quem deve existir em Camarones.
30 km (de ripio, é lógico) nos levaram à Reserva Dos Bahias, onde 80 mil pingüins de Magalhães procriam. São duas colinas um pouco longe da praia com muitos arbustos e cheias de tocas. Em cada uma delas um casal com um ou mais filhotes. Caminhos sinalizados e passarelas conduzem os visitantes pelo meio do habitat. A barulheira é grande. As aves grasnam e andam de lá para cá, sobem nas passarelas, se aproximam dos humanos cheios de curiosidade. Para fotografar é uma festa.
No dia seguinte, mais pingüins. Desta vez em Punta Tombo, a maior pingüineira de magalhanicos do mundo. O esquema é parecido com o de Canarones, mas há quem diga que são um milhão de aves. Como a área é muito maior, a sensação é que a reserva visitada anteriormente é mais divertida, com mais pingüins próximos e mais assanhados, embora em Tombo eles também andem pelas passarelas com desenvoltura e despreocupação. A diferença é que há muito mais turistas e, por isto, menos sossego.
No final do dia chegamos a Puerto Madryn, que é uma cidade grande e cheia de graça na beira mar. É o ponto de acesso à Península de Valdés, Patrimônio Natural da Humanidade há 70 km do centro. Dentro do parque as estradas são de ripio e somam 250 km entre os “miradores” públicos. Janeiro não é boa época para visitar a península, pois a principal atração do parque, as baleias francas, estão ausentes, reproduzindo nas costas do nordeste brasileiros. Mas ver as colônias de lobos e elefantes marinhos procriando já vale a pena. Há uma pingüineira que parece modesta diante das já avistadas. As paisagens são estupendas até para quem está acostumado com cenários marinhos. A cor do mar é exageradamente azul e tudo transmite uma enorme paz. Num dos estacionamentos tatus e raposas corriam entre os carros sem abalarem-se com a turistada.
Passamos um dia inteiro percorrendo a península e voltamos a Puerto Madryn para recuperar as forças e retornar à Ruta 3 que, em dois dias, nos colocará em Buenos Aires.
Adiós, Patagônia. A fase Animal Planet de nossa viagem acabou.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Subindo pela Ruta 3
550km... 550km... Pára um pouquinho, descansa um pouquinho... 550km. Lembra da musiquinha? Pois os nossos últimos três dias têm sido assim. Muita estrada avançando pela Ruta 3 (outra das lendárias estradas argentinas) rumo norte para as atrações do Atlântico. Paramos em Rio Grande, Rio Gallegos, Puerto Deseado e Comodoro Rivadávia. Nossos destinos são as reservas naturais de Punta Tombo e Península de Valdez, entre outras coisinhas do caminho.
Em Comodoro Rivadávia, de onde escrevemos, dedicamos o dia a cuidados com o Capitão Rodrigo. O carro recebeu uma lavagem para tirar a grossa camada de poeira, novos filtros de óleo, ar e combustível (peças que trouxemos na bagagem), o óleo foi trocado e todos os fluídos verificados. Tá novinho. Seu único problema foi a queima de uma lâmpada de luz baixa, que trocamos sem dificuldade numa oficina em Rio Grande.
As cidades listadas têm poucos atrativos. São pontos de passagem bem movimentados. Só Puerto Deseado uma graça adicional. É uma cidade na beira do estuário fluvial invadido pelo mar. O rio recortou ao longo de milhares de anos escarpas em rochas vermelhas que formam paredes tão íngremes quanto delicadas na paisagem. O nome da cidade se deve a sua posição geográfica. Foi Magalhães que lhe deu o nome depois de passar dias de tempestade e encontrar um tão desejado porto.
A vida marinha é viçosa ali, mas declinamos uma excursão a uma ilha de pingüins que nos custaria um bom punhado de pesos e mais um dia de viagem e estadia. Vamos encontrar pingüineiras maiores logo em seguida. A curtição de Porto Deseado foi fotografar o por de sol e cruzar de jipe um emaranhado de trilhas sobre as escarpas e praias do estuário, o local conhecido como Ría Deseado. Como o por do sol aqui ainda se dá perto da meia noite, quase não conseguimos um lugar aberto para jantar.
A paisagem de chegada a Comodoro Rivadávia é encantadora. Dia de sol pleno e o oceano (que nos mapas locais se chama Mar Argentino) num azul turquesa espetacular. Muitas aves, escarpas e água de um lado. De outro, poços de petróleo operados pela Petrobrás contrastando com pichações pedindo a re-nacionalização da exploração do óleo.
Vamos em frente.
Em Comodoro Rivadávia, de onde escrevemos, dedicamos o dia a cuidados com o Capitão Rodrigo. O carro recebeu uma lavagem para tirar a grossa camada de poeira, novos filtros de óleo, ar e combustível (peças que trouxemos na bagagem), o óleo foi trocado e todos os fluídos verificados. Tá novinho. Seu único problema foi a queima de uma lâmpada de luz baixa, que trocamos sem dificuldade numa oficina em Rio Grande.
As cidades listadas têm poucos atrativos. São pontos de passagem bem movimentados. Só Puerto Deseado uma graça adicional. É uma cidade na beira do estuário fluvial invadido pelo mar. O rio recortou ao longo de milhares de anos escarpas em rochas vermelhas que formam paredes tão íngremes quanto delicadas na paisagem. O nome da cidade se deve a sua posição geográfica. Foi Magalhães que lhe deu o nome depois de passar dias de tempestade e encontrar um tão desejado porto.
A vida marinha é viçosa ali, mas declinamos uma excursão a uma ilha de pingüins que nos custaria um bom punhado de pesos e mais um dia de viagem e estadia. Vamos encontrar pingüineiras maiores logo em seguida. A curtição de Porto Deseado foi fotografar o por de sol e cruzar de jipe um emaranhado de trilhas sobre as escarpas e praias do estuário, o local conhecido como Ría Deseado. Como o por do sol aqui ainda se dá perto da meia noite, quase não conseguimos um lugar aberto para jantar.
A paisagem de chegada a Comodoro Rivadávia é encantadora. Dia de sol pleno e o oceano (que nos mapas locais se chama Mar Argentino) num azul turquesa espetacular. Muitas aves, escarpas e água de um lado. De outro, poços de petróleo operados pela Petrobrás contrastando com pichações pedindo a re-nacionalização da exploração do óleo.
Vamos em frente.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
O mundo acabou
Num dia nublado chegamos Ushuaia. Após 8 mil km tornou-se impossível ir mais ao sul. Passamos do Paralelo 50 e mais abaixo só há gelo, a Antartida. As nuvens eram poucas para esconder a beleza da cidade pequena espremida entre o canal de Beagle e o final da Cordilheira dos Andes, aqui chamada de Cordilheira Darwin. O lugar é parte importante da história das navegações. Foi e ainda é um espaço cosmopolita onde desembarca gente de todo o mundo vinda por terra, água ou ar.
A cidade está cheia, mas o eficiente serviço de informações turísticas em alguns minutos levantou o nosso perfil e com alguns telefonemas nos indicou dois hotéis com disponibilidade, indicando os preços. Com a ajuda do GPS subimos ladeiras e ruas tortas para encontrar vaga por duas noites. Malas descarregadas, agora era conhecer a cidade.
Voltamos o serviço de informações turísticas e desta vez saímos com uma relação completa de todas as atrações da cidade com indicações de preços, opções de deslocamento, mapas. Um show de atendimento. Optamos por dedicar o dia a conhecer o centro, andar no porto, fotografar a cidade, visitar museus. Aproveitamos o sol até quase ele desaparecer, e em Ushuaia ele só vai embora perto da meia noite.
Não é uma cidade com muitas atrações. A mística do fim do mundo associada a um pequeno comércio e uma rede limitada de opções gastronômicas sustenta bem o lugar com uma receptividade cativante.
Lapataia
De manhã saímos 12km da cidade para entrar no Parque Nacional Tierra Del Fuego. Suas trilhas e miradores mostram a beleza natural da região. Castoreiras mostram o que aquele bichinho bonito e dentuço (introduzido na região pelos colonizadores) é capaz de fazer com a vegetação, derrubando árvores enormes para construir seus diques. Nos bosques lebres saltitam alheias a barulheira dos turistas.
O ponto alto do parque é o seu extremo. A placa que anuncia o final da Ruta 3 e a chegada à bela baía de Lapataia, no setor oeste do canal de Beagle. É aqui o fim do mundo para quem vai por terra.
Ao mar
A tarde embarcamos no catamaram Ushuaia Explorer para navegar pelo canal de Beagle. As águas tranqüilas de um raro dia sem vento nos levaram a pontos históricos como o farol do canal e a ilhas lotadas de cormorões imperiais, leões marinhos de um e dois pelos e muitos pingüins de magalhães.
A embarcação chega a ser luxuosa e leva a turistada a poucos metros dos animais que parecem posar para as fotos. Os pingüins se aproximam curiosos. Os leões marinhos seguem seus banhos de sol impassíveis e preguiçosos. As outras aves parecem festejar em suas revoadas ruidosas.
Gelo
No domingo de sol subimos o Glaciar Martial, pertinho da cidade. Coisa de 1.800 metros de altitude, boa parte dos quais de sobe num teleférico (terapia para quem tem vertigem de altura, como eu). Uma caminhada leva a base do glaciar onde já se pode brincar com o gelo que resiste ao verão e que faz a alegria dos visitantes.
Aliás, há visitantes de todo tipo. Desde os ciclistas e mochileiros que se encontra na estrada, até as excursões de terceira idade. E muitos jipeiros, alguns bem inconvenientes. Uma expedição de brasileiros com umas 15 Land Rover atazana a vida da cidade. Onde chegam falam alto de suas compras, se comunicam por meio de rádio mesmo que o interlocutor esteja na mesa ao lado. Uma chatice.
Mas encontramos também gente boa. Uma família de Floripa viajando numa Sprinter, um casal Trolleiro simpático e outro casal de Floripa com uma Land Rover. Gente do bem.
La Centolla
Quem chega a Ushuaia tem que comer centolla. Um crustáceo, um caranguejo grande que parece uma lagosta. Pescado ali no canal é servido em quase todos os bons restaurantes da cidade. Escolhemos o Casa Del Marisco, pequeno e familiar. A Centolla Fueguina vem numa tigela ensopada com um mistura de molho branco com pimentão. Mas pedimos também uma Cazuela de Polvo com Centolla.
A centolla tem sabor delicado, muito influenciável pelos outros ingredientes. Na cazuela ficou um pouco oprimida pela intensidade do polvo. Na moda fueguina ficou mais livre para revelar seu sabor que mistura um pouco de camarão com a textura do siri. Mas acho que a melhor definição é “gosto de centolla”.
Valeu a pena e vai deixar saudade.
Pensamentos inevitáveis
Impossível chegar a Ushuaia sem uma certa emoção. A mística do fim do mundo ajuda, mas a gente se põe a pensar nas margens daquelas águas históricas. Estar ali tem para nós um significado talhado pelas dificuldades de chegar. Não a dificuldade das estradas, que isto é parte da diversão. Mas a trajetória sinuosa de doença percorrida duramente, mas sempre animada por uma vontade enorme de viver para ser feliz, realizar viagens como estas e muitas outras grandes e pequenas. Ou, simplesmente, melhor fazer a grande viagem cotidiana do convívio com os amigos e parceiros de todo o tipo.
É como diz a frase promocional da cidade: “Fim do mundo, princípio de tudo”. Claro que esta viagem não é o fim de nada é só mais um capítulo de uma história em que se faz tudo para ser feliz.
PS.: O bom observador percebeu na foto que a grande meta desta jornada era fazer tremular no fim do mundo o Pavilhão Tricolor. Não viemos a pé, mas o Grêmio está onde a gente estiver.
A cidade está cheia, mas o eficiente serviço de informações turísticas em alguns minutos levantou o nosso perfil e com alguns telefonemas nos indicou dois hotéis com disponibilidade, indicando os preços. Com a ajuda do GPS subimos ladeiras e ruas tortas para encontrar vaga por duas noites. Malas descarregadas, agora era conhecer a cidade.
Voltamos o serviço de informações turísticas e desta vez saímos com uma relação completa de todas as atrações da cidade com indicações de preços, opções de deslocamento, mapas. Um show de atendimento. Optamos por dedicar o dia a conhecer o centro, andar no porto, fotografar a cidade, visitar museus. Aproveitamos o sol até quase ele desaparecer, e em Ushuaia ele só vai embora perto da meia noite.
Não é uma cidade com muitas atrações. A mística do fim do mundo associada a um pequeno comércio e uma rede limitada de opções gastronômicas sustenta bem o lugar com uma receptividade cativante.
Lapataia
De manhã saímos 12km da cidade para entrar no Parque Nacional Tierra Del Fuego. Suas trilhas e miradores mostram a beleza natural da região. Castoreiras mostram o que aquele bichinho bonito e dentuço (introduzido na região pelos colonizadores) é capaz de fazer com a vegetação, derrubando árvores enormes para construir seus diques. Nos bosques lebres saltitam alheias a barulheira dos turistas.
O ponto alto do parque é o seu extremo. A placa que anuncia o final da Ruta 3 e a chegada à bela baía de Lapataia, no setor oeste do canal de Beagle. É aqui o fim do mundo para quem vai por terra.
Ao mar
A tarde embarcamos no catamaram Ushuaia Explorer para navegar pelo canal de Beagle. As águas tranqüilas de um raro dia sem vento nos levaram a pontos históricos como o farol do canal e a ilhas lotadas de cormorões imperiais, leões marinhos de um e dois pelos e muitos pingüins de magalhães.
A embarcação chega a ser luxuosa e leva a turistada a poucos metros dos animais que parecem posar para as fotos. Os pingüins se aproximam curiosos. Os leões marinhos seguem seus banhos de sol impassíveis e preguiçosos. As outras aves parecem festejar em suas revoadas ruidosas.
Gelo
No domingo de sol subimos o Glaciar Martial, pertinho da cidade. Coisa de 1.800 metros de altitude, boa parte dos quais de sobe num teleférico (terapia para quem tem vertigem de altura, como eu). Uma caminhada leva a base do glaciar onde já se pode brincar com o gelo que resiste ao verão e que faz a alegria dos visitantes.
Aliás, há visitantes de todo tipo. Desde os ciclistas e mochileiros que se encontra na estrada, até as excursões de terceira idade. E muitos jipeiros, alguns bem inconvenientes. Uma expedição de brasileiros com umas 15 Land Rover atazana a vida da cidade. Onde chegam falam alto de suas compras, se comunicam por meio de rádio mesmo que o interlocutor esteja na mesa ao lado. Uma chatice.
Mas encontramos também gente boa. Uma família de Floripa viajando numa Sprinter, um casal Trolleiro simpático e outro casal de Floripa com uma Land Rover. Gente do bem.
La Centolla
Quem chega a Ushuaia tem que comer centolla. Um crustáceo, um caranguejo grande que parece uma lagosta. Pescado ali no canal é servido em quase todos os bons restaurantes da cidade. Escolhemos o Casa Del Marisco, pequeno e familiar. A Centolla Fueguina vem numa tigela ensopada com um mistura de molho branco com pimentão. Mas pedimos também uma Cazuela de Polvo com Centolla.
A centolla tem sabor delicado, muito influenciável pelos outros ingredientes. Na cazuela ficou um pouco oprimida pela intensidade do polvo. Na moda fueguina ficou mais livre para revelar seu sabor que mistura um pouco de camarão com a textura do siri. Mas acho que a melhor definição é “gosto de centolla”.
Valeu a pena e vai deixar saudade.
Pensamentos inevitáveis
Impossível chegar a Ushuaia sem uma certa emoção. A mística do fim do mundo ajuda, mas a gente se põe a pensar nas margens daquelas águas históricas. Estar ali tem para nós um significado talhado pelas dificuldades de chegar. Não a dificuldade das estradas, que isto é parte da diversão. Mas a trajetória sinuosa de doença percorrida duramente, mas sempre animada por uma vontade enorme de viver para ser feliz, realizar viagens como estas e muitas outras grandes e pequenas. Ou, simplesmente, melhor fazer a grande viagem cotidiana do convívio com os amigos e parceiros de todo o tipo.
É como diz a frase promocional da cidade: “Fim do mundo, princípio de tudo”. Claro que esta viagem não é o fim de nada é só mais um capítulo de uma história em que se faz tudo para ser feliz.
PS.: O bom observador percebeu na foto que a grande meta desta jornada era fazer tremular no fim do mundo o Pavilhão Tricolor. Não viemos a pé, mas o Grêmio está onde a gente estiver.
sábado, 12 de janeiro de 2008
A Terra era assim. 3 milhões de anos atrás
O glaciar Perito Moreno é um campo de gelo de 247 Km2 que desce da cordilheira e se esparrama sobre o lago Argentina, bloqueando a passagem de água entre dois de seus braços. Acima da água se ergue uma parede de 60m de altura. Abaixo da linha d’água o bloco de gelo chega a 140m. Tudo que se possa dizer sobre a sensação de estar diante deste testemunho de como era o planeta há três milhões de anos deve ser superlativo. Todas as figuras de comparação são piegas e insuficientes para descrevê-lo. Nem o adjetivo “indescritível” resolve a demanda.
Para completar, o espetáculo é dinâmico. Perito Moreno é o único glaciar em movimento. Todos os dias ele avança sobre o lago que, por sua vez, resiste. O resultado, que estabelece o equilíbrio necessário, é que, vez que outra, blocos enormes de gelo se desprendem da parede e quebram a tranqüilidade azul do lago, em estrondos colossais. Quando isto acontece os turistas deliram e aplaudem nas passarelas que permitem uma visão panorâmica do glaciar, especialmente de sua parede norte.
Paga-se 40 pesos por pessoa para entrar no bem estruturado Parque Nacional dos Glaciares. Funcionários e jovens voluntários são atenciosos. Dentro dele há transporte gratuito em vans até as passarelas. Barcos confortáveis, por mais 38 pesos por cabeça, carregam turistas como nós até bem perto do paredão branco e azul, a uma distância segura (uns mil metros, talvez) com relação às quedas de gelo.
O parque é a principal e melhor atração de El Calafate. Cidade pequena, elegante, bonita, na margem do maior lago de água doce do território argentino. A cidade vive de turismo e nesta época está lotada. Muitos brasileiros chegam de avião e muitos jipeiros e motociclistas, em expedições organizadas, desfilam uniformizados e com os veículos caracterizados.
Quando respirávamos os primeiros ares da cidade, andando pela rua principal, alguém me chama por nome e sobrenome. Era a Rosana Pozzobom e seu filho Francisco, que já passa dos 20 anos. Papo gostoso numa esquina com direito a algumas dicas da cidade. Mas a Sana e o Chico estavam de partida para o aeroporto.
No posto e informações turísticas conseguimos driblar a dificuldade de encontrar alojamento. Com uma lista de disponibilidades e preços um atendente jovem e prestativo nos indicou umas cabanas gostosas no meio de um jardim de inverno floridíssimo. O preço era razoável e ficamos.
De resto, a cidade é composta por muitas lojas de artesanato bem caros. Restaurantes razoáveis, mas também caros, e muitas agências de excursões para cidades vizinhas como El Chaltén, de onde viemos.
Pratos Patagônicos
A previsão de que choveria por pelo menos mais dois dias nos empurrou para fora de El Chaltén, mesmo sem termos avistado o Cerro Torre. O cerro Fitz Roy passou quase pleno por nossos olhos quando chegamos na cidade, mas não conseguimos chegar à sua base.
Sem poder ver os cerros fomos para o restaurante La Casita. Casa simples pintada de cor-de-rosa feio, que anuncia comida típica da Patagônia. As quatro mulheres agitadas que comandam o estabelecimento recomendaram o Cordeiro Al Assador e a Lenteja Patagônica. O cordeiro criado na região vem em pedaços grandes e chuletas, temperados só com sal e chimichurri, e assados na chapa. Vem à mesa numa grelha com carvão. Um prato simples e objetivo, que ressalta o sabor profundo da carne muito tenra e fresca. A sua gordura é entranhada nas fibras e resulta suave, diferente das ovelhinhas que comemos no Brasil.
As “lentejas” são lentilhas servidas quase numa sopa campeira em que vai arroz, carne, batatas, cenoura e um tempero forte, liderado por pimentão. Um prato rústico e compatível com o frio instalado em pleno janeiro. Talvez seja uma mostra mais efetiva de um prato regional. Saboroso e nutritivo.
Na terra do fogo
De El Calafate partimos para o sul, rumo a Ushuaia. Passamos por Rio Gallegos e seguimos rumo às fronteiras. Como a Terra do Fogo é um território dividido entre Argentina e Chile, temos que cruzar uns 150 km em território chileno (mais de 100 sem asfalto) para chegar ao nosso destino. São quatro aduanas ao todo, com filas e carimbos a vontade.
Para chegar à Tierra Del Fuego propriamente dita, temos que cruzar o Estreito de Magalhães (que liga o Atlântico ao Pacífico) em uma balsa. Muito vento, mar agitado. Nos 25 minutos de travessia o barco carregado de carros e caminhões adernou, subiu ondas, enquanto crianças se agarravam a seus pais e algumas mulheres tinham chiliques. Homens valentes ficavam sérios sentados no salão de passageiros no segundo andar do barco, cujas janelas eram constantemente lavadas pelas ondas. No convés, os veículos tomavam banho de água salgada.
Rio Grande
Se fossemos até Ushuaia direto, chegaríamos lá por volta da meia noite, o que seria inconveniente. Pernoitamos em Rio Grande, a outra cidade de porte da região, umas duas horas antes do nosso destino. Com dificuldade, conseguimos vaga num hotel em cujo restaurante se serve a principal iguaria do local, a Truta Negra, que só existe no rio que tem o nome da cidade.
É uma truta de carne mais avermelhada. Servida grelhada, com molho de vinho tinto, a carne sobressai num sabor leve, que contrasta com o rigor do vinho. Num molho forte de cebolas e roquefort, chamado de “fueguino”, a truta vira o ponto de equilíbrio do prato como que apartando a briga de dois gostos muito acentuados. O resultado é incrivelmente harmonioso.
Reta final
Publicar este texto é a última tarefa antes de pegar a estrada para Ushuaia. Daqui a pouco o mundo acaba.
Para completar, o espetáculo é dinâmico. Perito Moreno é o único glaciar em movimento. Todos os dias ele avança sobre o lago que, por sua vez, resiste. O resultado, que estabelece o equilíbrio necessário, é que, vez que outra, blocos enormes de gelo se desprendem da parede e quebram a tranqüilidade azul do lago, em estrondos colossais. Quando isto acontece os turistas deliram e aplaudem nas passarelas que permitem uma visão panorâmica do glaciar, especialmente de sua parede norte.
Paga-se 40 pesos por pessoa para entrar no bem estruturado Parque Nacional dos Glaciares. Funcionários e jovens voluntários são atenciosos. Dentro dele há transporte gratuito em vans até as passarelas. Barcos confortáveis, por mais 38 pesos por cabeça, carregam turistas como nós até bem perto do paredão branco e azul, a uma distância segura (uns mil metros, talvez) com relação às quedas de gelo.
O parque é a principal e melhor atração de El Calafate. Cidade pequena, elegante, bonita, na margem do maior lago de água doce do território argentino. A cidade vive de turismo e nesta época está lotada. Muitos brasileiros chegam de avião e muitos jipeiros e motociclistas, em expedições organizadas, desfilam uniformizados e com os veículos caracterizados.
Quando respirávamos os primeiros ares da cidade, andando pela rua principal, alguém me chama por nome e sobrenome. Era a Rosana Pozzobom e seu filho Francisco, que já passa dos 20 anos. Papo gostoso numa esquina com direito a algumas dicas da cidade. Mas a Sana e o Chico estavam de partida para o aeroporto.
No posto e informações turísticas conseguimos driblar a dificuldade de encontrar alojamento. Com uma lista de disponibilidades e preços um atendente jovem e prestativo nos indicou umas cabanas gostosas no meio de um jardim de inverno floridíssimo. O preço era razoável e ficamos.
De resto, a cidade é composta por muitas lojas de artesanato bem caros. Restaurantes razoáveis, mas também caros, e muitas agências de excursões para cidades vizinhas como El Chaltén, de onde viemos.
Pratos Patagônicos
A previsão de que choveria por pelo menos mais dois dias nos empurrou para fora de El Chaltén, mesmo sem termos avistado o Cerro Torre. O cerro Fitz Roy passou quase pleno por nossos olhos quando chegamos na cidade, mas não conseguimos chegar à sua base.
Sem poder ver os cerros fomos para o restaurante La Casita. Casa simples pintada de cor-de-rosa feio, que anuncia comida típica da Patagônia. As quatro mulheres agitadas que comandam o estabelecimento recomendaram o Cordeiro Al Assador e a Lenteja Patagônica. O cordeiro criado na região vem em pedaços grandes e chuletas, temperados só com sal e chimichurri, e assados na chapa. Vem à mesa numa grelha com carvão. Um prato simples e objetivo, que ressalta o sabor profundo da carne muito tenra e fresca. A sua gordura é entranhada nas fibras e resulta suave, diferente das ovelhinhas que comemos no Brasil.
As “lentejas” são lentilhas servidas quase numa sopa campeira em que vai arroz, carne, batatas, cenoura e um tempero forte, liderado por pimentão. Um prato rústico e compatível com o frio instalado em pleno janeiro. Talvez seja uma mostra mais efetiva de um prato regional. Saboroso e nutritivo.
Na terra do fogo
De El Calafate partimos para o sul, rumo a Ushuaia. Passamos por Rio Gallegos e seguimos rumo às fronteiras. Como a Terra do Fogo é um território dividido entre Argentina e Chile, temos que cruzar uns 150 km em território chileno (mais de 100 sem asfalto) para chegar ao nosso destino. São quatro aduanas ao todo, com filas e carimbos a vontade.
Para chegar à Tierra Del Fuego propriamente dita, temos que cruzar o Estreito de Magalhães (que liga o Atlântico ao Pacífico) em uma balsa. Muito vento, mar agitado. Nos 25 minutos de travessia o barco carregado de carros e caminhões adernou, subiu ondas, enquanto crianças se agarravam a seus pais e algumas mulheres tinham chiliques. Homens valentes ficavam sérios sentados no salão de passageiros no segundo andar do barco, cujas janelas eram constantemente lavadas pelas ondas. No convés, os veículos tomavam banho de água salgada.
Rio Grande
Se fossemos até Ushuaia direto, chegaríamos lá por volta da meia noite, o que seria inconveniente. Pernoitamos em Rio Grande, a outra cidade de porte da região, umas duas horas antes do nosso destino. Com dificuldade, conseguimos vaga num hotel em cujo restaurante se serve a principal iguaria do local, a Truta Negra, que só existe no rio que tem o nome da cidade.
É uma truta de carne mais avermelhada. Servida grelhada, com molho de vinho tinto, a carne sobressai num sabor leve, que contrasta com o rigor do vinho. Num molho forte de cebolas e roquefort, chamado de “fueguino”, a truta vira o ponto de equilíbrio do prato como que apartando a briga de dois gostos muito acentuados. O resultado é incrivelmente harmonioso.
Reta final
Publicar este texto é a última tarefa antes de pegar a estrada para Ushuaia. Daqui a pouco o mundo acaba.
PS.: Na verdade já estamos em Ushuaia. Não postamos antes porque a internet aqui é ruim e cara. Logo contaremos como é a vida por aqui.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Da imensidão patagônica aos glaciares
Dois dias de estradas foram suficientes para entender o que significa uma “solidão ptagônica”. Ao deixar Bariloche cruzamos estradas boas, sinuosas e bonitas, até chegar na famosa Ruta 40, que corta a Argentina do norte ao Estreito de Magalhães. No primeiro trecho asfalto bom, mas enfrentamos um pouco mais de 100 km de ripio, um pedregulho arredondado que pode variar de um pequeno cascalho minúsculo a uma pedra de quase 10 cm de diâmetro. O carro chacoalha, derrapa, levanta poeira. Ninguém ultrapassa ninguém e quando há cruzamento em sentido contrário se reduz bem velocidade para não arremessar pedra no outro veículo. Há muito pouco movimento nestas vias. Para evitar este caminho teríamos que rodar uns 600 km a mais que o planejado. A estrada de rípio cruza propriedades rurais, planuras imensas e paisagem árida.
No final do primeiro dia chegamos a Perito Moreno. Apesar do nome da cidade, ela não tem glaciares, não tem nada. Nada mesmo. É só um ponto de passagem para quem vai ao sul. Mas estava lotada às 21h quando chegamos, ainda com sol alto. Todos os hotéis com placas de “lotado”, em vários idiomas. Procuramos, ainda, cabanas para alugar, em vão. A última opção seria um camping. O primeiro que vimos era sujo e mal freqüentado. No segundo, utilizamos o equipamento emprestado pelo Frank e a Ana Paula para situações de emergência: barraca e sacos de dormir.
O Raulito
Quase numa esquina da rua principal encontramos o mini-camping do Raul. O próprio dono nos esperou na rua. Baixinho, capacete de obra amarelo, falando pelos cotovelos, nos mostrou o pátio de sua casa onde, em um gramado bem cuidado, já havia umas três barracas estabelecidas, todas de estrangeiros. No centro do quintal uma construção estranha, redonda, metálica e amarela, com quatro camas imundas nos foi oferecida com entusiasmo, "el bunker", mas declinamos. A higiene indicava o gramado como melhor opção. E o Raul falando sem parar, andando em nossa volta, elétrico e cobrando caro. Como não teríamos outra opção e os banheiros eram limpos, ficamos.
Montamos a barraca e inflamos o colchão em poucos minutos. Enquanto isso, Raul atendia sem parar pessoas que chegavam, umas atrás das outras. Em pouco tempo o mini-camping ficou repleto de gente de vários idiomas. Com alguma dificuldade conseguimos um lugar para jantar e dormimos. O vento forte típico da região balançou a barraca a noite inteira, mas dormimos bem.
Quando acordamos, Raúl já sassaricava entre as barracas, contava histórias e falava com todos ao mesmo tempo. O camping estava ainda mais cheio, inclusive com pessoas que dormiram dentro de seus carros, por falta de alternativa. Pagaram muito ao Raul só para usar o banheiro e o estacionamento.
No final do primeiro dia chegamos a Perito Moreno. Apesar do nome da cidade, ela não tem glaciares, não tem nada. Nada mesmo. É só um ponto de passagem para quem vai ao sul. Mas estava lotada às 21h quando chegamos, ainda com sol alto. Todos os hotéis com placas de “lotado”, em vários idiomas. Procuramos, ainda, cabanas para alugar, em vão. A última opção seria um camping. O primeiro que vimos era sujo e mal freqüentado. No segundo, utilizamos o equipamento emprestado pelo Frank e a Ana Paula para situações de emergência: barraca e sacos de dormir.
O Raulito
Quase numa esquina da rua principal encontramos o mini-camping do Raul. O próprio dono nos esperou na rua. Baixinho, capacete de obra amarelo, falando pelos cotovelos, nos mostrou o pátio de sua casa onde, em um gramado bem cuidado, já havia umas três barracas estabelecidas, todas de estrangeiros. No centro do quintal uma construção estranha, redonda, metálica e amarela, com quatro camas imundas nos foi oferecida com entusiasmo, "el bunker", mas declinamos. A higiene indicava o gramado como melhor opção. E o Raul falando sem parar, andando em nossa volta, elétrico e cobrando caro. Como não teríamos outra opção e os banheiros eram limpos, ficamos.
Montamos a barraca e inflamos o colchão em poucos minutos. Enquanto isso, Raul atendia sem parar pessoas que chegavam, umas atrás das outras. Em pouco tempo o mini-camping ficou repleto de gente de vários idiomas. Com alguma dificuldade conseguimos um lugar para jantar e dormimos. O vento forte típico da região balançou a barraca a noite inteira, mas dormimos bem.
Quando acordamos, Raúl já sassaricava entre as barracas, contava histórias e falava com todos ao mesmo tempo. O camping estava ainda mais cheio, inclusive com pessoas que dormiram dentro de seus carros, por falta de alternativa. Pagaram muito ao Raul só para usar o banheiro e o estacionamento.
A figura folclórica se despediu de nós calorosamente.
De volta à Ruta 40
Quando fomos abastecer verificamos no GPS e nos mapas que 490 km nos separavam do nosso próximo destino. O frentista deu a notícia apavorante: temos apenas 50 km de asfalto. A verdadeira Ruta 40 ainda não tinha se apresentado.
Soninha no volante venceu rapidinho o trecho pavimentado e chegou no rípio. A paisagem cada vez mais agreste. O vento forte balança o carro. A velocidade fica em torno dos 60 km/h e as vezes mais baixa. A estrada parece se desdobrar e os quilômetros são vencidos um a um, na maior morosidade.
Tudo parece deserto. A aparição eventual de lebres, emas, tatus e guanacos mostra que há muita vida selvagem naquelas paisagens que representam o que é a maior extensão da Patagônia. A solidão é um sentimento inevitável, uma vez que raramente se vê um carro indo ou vindo. Vez que outra se passa por uma casinha perdida, lá no meio. São as estâncias rurais, geralmente utilizadas também como unidades turísticas de pouso pra viajantes. O resto é horizonte.
Nesta estrada um carro robusto faz toda a diferença. Ganha-se em segurança e conforto numa escala gigantesca. Carros menores passam pela 40, mas certamente não chegam íntegros ao outro lado. Esta “ruta”maltrata a todos.
Socorro na estrada
A monotonia da viagem foi quebrada drasticamente perto das 16h. Encontramos duas motos argentinas estateladas na estrada. Os pilotos estavam bem, mas nervosos. Uma pedra havia perfurado o carter de uma delas, e o outro tentou rebocar a avariada. Claro que isso não eu certo, e as duas tombaram no rípio. Oferecemos auxílio. Eles não acreditaram quando dissemos que tínhamos os cabos necessários e disposição para rebocar a moto quebrada até a próxima estância, 25 km adiante.
Rebocar uma moto no rípio não é fácil. Nos primeiros 500m a moto voltou a tombar. Combinamos novos procedimentos. A moto seguiria no trilho do pneu e pararíamos algumas vezes para descansar o motociclista. Vencemos o percurso em pouco mais de uma hora de tensão. A operação era de risco. O cabo de reboque tinha que se manter esticado para a moto não enroscar nele. O perigo permanente era a moto cair e eu arrastá-la com seu piloto.
A operação de solidariedade terminou na estância La Angostura, que já era o destino dos acidentados. Atrasamo-nos, mas saímos convictos de que fizemos o que deveria ser feito. Naquela imensidão qualquer infortúnio é muito grande. E se fossemos nós a precisar de ajuda?
De volta às montanhas
Mais algumas horas e chegamos ao asfalto da Ruta Provincial 23, que nos levou a El Chaltén. A chegada na cidade compensa o dia inteiro no rípio. Pouco a pouco fomos entrando numa paisagem de montanhas geladas. Logo atrás das casas do povoado o cerro Fitz Roy dá as boas vindas, um pouco tímido entre algumas nuvens, mas sempre com a majestade de ser uma das montanhas mais cobiçadas por alpinistas do mundo todo.
El Chaltén foi fundada em 1985. Nasceu e cresceu como ponto de partida para quem quer escalar o Fitz Roy e o temido Cerro Torre (que é tema de um filme do Werner Herzog, O Coração da Montanha). Pouco mais de uma dúzia de ruas sem calçamento, um único e precário posto de combustível e dezenas de pousadas, hotéis, albergues e campings. Tudo tomado por alpinistas e aventureiros que procuram a cidade, que foi declarada Capital Nacional do Tracking, para a suas férias.
Nesta cidade de muitos idiomas conseguimos a muito custo (muito mesmo!) uma vaga num hotel muito confortável, com vista para o Fitz Roy. Café da manhã muito acima da média argentina, calefação e atendimento muito atencioso.
Mas chove em El Chaltén. E com isto o que a cidade tem de melhor fica quase invisível. As trilhas que levam aos principais mirantes são de pelo menos uma hora de caminhada. E, além da chuva, há um vento intenso e contínuo que zumbe nas orelhas e gela os ossos.
Mesmo assim, desfrutando do Capitão Rodrigo, que é um enorme diferencial nestas horas, fizemos uma sensacional incursão motorizada de 40 km pelo Parque Nacional de Los Glaciares. Os cenários são extremos. Rios azuis esverdeados, rios de águas brancas e leitosas, lagos, cascatas, bosques cinematográficos.Tudo emoldurado por montanhas cobertas de gelo, as vezes azul, as vezes branco.
Agora é esperar que o sol revele a plenitude das montanhas.
De volta à Ruta 40
Quando fomos abastecer verificamos no GPS e nos mapas que 490 km nos separavam do nosso próximo destino. O frentista deu a notícia apavorante: temos apenas 50 km de asfalto. A verdadeira Ruta 40 ainda não tinha se apresentado.
Soninha no volante venceu rapidinho o trecho pavimentado e chegou no rípio. A paisagem cada vez mais agreste. O vento forte balança o carro. A velocidade fica em torno dos 60 km/h e as vezes mais baixa. A estrada parece se desdobrar e os quilômetros são vencidos um a um, na maior morosidade.
Tudo parece deserto. A aparição eventual de lebres, emas, tatus e guanacos mostra que há muita vida selvagem naquelas paisagens que representam o que é a maior extensão da Patagônia. A solidão é um sentimento inevitável, uma vez que raramente se vê um carro indo ou vindo. Vez que outra se passa por uma casinha perdida, lá no meio. São as estâncias rurais, geralmente utilizadas também como unidades turísticas de pouso pra viajantes. O resto é horizonte.
Nesta estrada um carro robusto faz toda a diferença. Ganha-se em segurança e conforto numa escala gigantesca. Carros menores passam pela 40, mas certamente não chegam íntegros ao outro lado. Esta “ruta”maltrata a todos.
Socorro na estrada
A monotonia da viagem foi quebrada drasticamente perto das 16h. Encontramos duas motos argentinas estateladas na estrada. Os pilotos estavam bem, mas nervosos. Uma pedra havia perfurado o carter de uma delas, e o outro tentou rebocar a avariada. Claro que isso não eu certo, e as duas tombaram no rípio. Oferecemos auxílio. Eles não acreditaram quando dissemos que tínhamos os cabos necessários e disposição para rebocar a moto quebrada até a próxima estância, 25 km adiante.
Rebocar uma moto no rípio não é fácil. Nos primeiros 500m a moto voltou a tombar. Combinamos novos procedimentos. A moto seguiria no trilho do pneu e pararíamos algumas vezes para descansar o motociclista. Vencemos o percurso em pouco mais de uma hora de tensão. A operação era de risco. O cabo de reboque tinha que se manter esticado para a moto não enroscar nele. O perigo permanente era a moto cair e eu arrastá-la com seu piloto.
A operação de solidariedade terminou na estância La Angostura, que já era o destino dos acidentados. Atrasamo-nos, mas saímos convictos de que fizemos o que deveria ser feito. Naquela imensidão qualquer infortúnio é muito grande. E se fossemos nós a precisar de ajuda?
De volta às montanhas
Mais algumas horas e chegamos ao asfalto da Ruta Provincial 23, que nos levou a El Chaltén. A chegada na cidade compensa o dia inteiro no rípio. Pouco a pouco fomos entrando numa paisagem de montanhas geladas. Logo atrás das casas do povoado o cerro Fitz Roy dá as boas vindas, um pouco tímido entre algumas nuvens, mas sempre com a majestade de ser uma das montanhas mais cobiçadas por alpinistas do mundo todo.
El Chaltén foi fundada em 1985. Nasceu e cresceu como ponto de partida para quem quer escalar o Fitz Roy e o temido Cerro Torre (que é tema de um filme do Werner Herzog, O Coração da Montanha). Pouco mais de uma dúzia de ruas sem calçamento, um único e precário posto de combustível e dezenas de pousadas, hotéis, albergues e campings. Tudo tomado por alpinistas e aventureiros que procuram a cidade, que foi declarada Capital Nacional do Tracking, para a suas férias.
Nesta cidade de muitos idiomas conseguimos a muito custo (muito mesmo!) uma vaga num hotel muito confortável, com vista para o Fitz Roy. Café da manhã muito acima da média argentina, calefação e atendimento muito atencioso.
Mas chove em El Chaltén. E com isto o que a cidade tem de melhor fica quase invisível. As trilhas que levam aos principais mirantes são de pelo menos uma hora de caminhada. E, além da chuva, há um vento intenso e contínuo que zumbe nas orelhas e gela os ossos.
Mesmo assim, desfrutando do Capitão Rodrigo, que é um enorme diferencial nestas horas, fizemos uma sensacional incursão motorizada de 40 km pelo Parque Nacional de Los Glaciares. Os cenários são extremos. Rios azuis esverdeados, rios de águas brancas e leitosas, lagos, cascatas, bosques cinematográficos.Tudo emoldurado por montanhas cobertas de gelo, as vezes azul, as vezes branco.
Agora é esperar que o sol revele a plenitude das montanhas.
sábado, 5 de janeiro de 2008
A cordilheira se derrete em lagos azuis
É difícil chegar a Bariloche. A estrada de Chiloé até lá é boa. Mas a gente precisa parar toda hora para fotografar. Primeiro, a nossa direita, a companhia imponente do vulcão Ozorno, cartão postal do Chile, num dia de céu azul pleno. Logo aparece mais um vulcão e mais montanhas nevadas. A Cordilheira dos Andes se apresenta sem reservas. Entre nós e ela, campos delicadamente floridos.
Na medida em que nos aproximamos da fronteira com a Argentina a estrada fica mais sinuosa e muitos pinheiros vão ladeando a via. Suas copas, geralmente quebradas, dizem que ali faz muito frio a ponto de machucar a mais robusta vegetação.
Na fronteira os trâmites burocráticos habituais, com poucas filas.
Depois da primeira alfândega, a de saída do Chile, a estrada serpenteia entre os pinheiros, sobe e desce de forma aguda. Uma placa anuncia um “mirador”. É a senha para que os viajantes parem seus carros – e todos param – para ver o Lago Espejo, o terceiro que avistamos e indiscutivelmente o mais belo. O espelho de água calidamente azul reflete as montanhas e seus pinheirais e os picos nevados que emolduram o horizonte.
Diz a lenda que este é o cenário do filme Bambi, da Disney. De qualquer forma é uma paisagem cinematográfica. Diante dele, o silêncio se impõe e mesmo o dedo ansioso para clicar a câmara fica estático. A natureza e seus ruídos reverberam na nossa cabeça que custa a compreender tamanha perfeição e harmonia. A impressão fugaz de fazer parte daquele quadro pintado com esmero repercute em serenidade e paz.
A região dos sete lagos, porta de entrada pelo oeste da Patagônia Argentina, é belíssima. Depois do Espejo vem o maior deles, o Nahuel Huapi. As placas anunciam a chegada ao “Jardim da Patagônia”. Vila La Angostura é uma cidadezinha muito pequena, muito florida e repleta de gente muito rica que tem casas entre o lago e as montanhas nevadas. A próxima cidade é San Carlos de Bariloche, que dispensa apresentações.
A cidade shopping
Bariloche é linda como se vê nos postais. Uma cidade limpa e florida, grande e organizada. Mesmo fora da temporada de esquis a cidade ferve. Nesta época dezenas de excursões de adolescentes agitam as ruas e lotam os hotéis. Na maioria dos estabelecimentos onde buscamos vagas nos informaram que “los niños” haviam chegado antes. Dividimos espaço com eles no modesto Hotel Antártida, na rua Mitre, o centro comercial da cidade.
As lojas de grifes famosas ficam lado a lado com lojas de “artesanias” e artigos locais. E por tudo camisetas escrito “Bariloche” das mais variadas formas. Em geral a comida é cara, as roupas são caras, tudo é caro. Uma cidade turística com todas as mazelas que isto acarreta.
O Cerro Catedral, principal estação de esquis, mesmo sem sua lucrativa cobertura branca, atrai turistas que sobem os teleféricos só por curiosidade. Na beira do lago gelado muita gente se banha nas praias pedregosas. A proximidade do final de semana agita ainda mais a cidade.
Já vimos o que tinha que ser visto. Vamos voltar à estrada, enfrentar a lendária Ruta 40 (o adjetivo é meio sem graça, mas é isto que ela é) e sua paisagem na Patagônica árida e ventosa que existe além dos lagos. Vamos mais para o sul.
Na medida em que nos aproximamos da fronteira com a Argentina a estrada fica mais sinuosa e muitos pinheiros vão ladeando a via. Suas copas, geralmente quebradas, dizem que ali faz muito frio a ponto de machucar a mais robusta vegetação.
Na fronteira os trâmites burocráticos habituais, com poucas filas.
Depois da primeira alfândega, a de saída do Chile, a estrada serpenteia entre os pinheiros, sobe e desce de forma aguda. Uma placa anuncia um “mirador”. É a senha para que os viajantes parem seus carros – e todos param – para ver o Lago Espejo, o terceiro que avistamos e indiscutivelmente o mais belo. O espelho de água calidamente azul reflete as montanhas e seus pinheirais e os picos nevados que emolduram o horizonte.
Diz a lenda que este é o cenário do filme Bambi, da Disney. De qualquer forma é uma paisagem cinematográfica. Diante dele, o silêncio se impõe e mesmo o dedo ansioso para clicar a câmara fica estático. A natureza e seus ruídos reverberam na nossa cabeça que custa a compreender tamanha perfeição e harmonia. A impressão fugaz de fazer parte daquele quadro pintado com esmero repercute em serenidade e paz.
A região dos sete lagos, porta de entrada pelo oeste da Patagônia Argentina, é belíssima. Depois do Espejo vem o maior deles, o Nahuel Huapi. As placas anunciam a chegada ao “Jardim da Patagônia”. Vila La Angostura é uma cidadezinha muito pequena, muito florida e repleta de gente muito rica que tem casas entre o lago e as montanhas nevadas. A próxima cidade é San Carlos de Bariloche, que dispensa apresentações.
A cidade shopping
Bariloche é linda como se vê nos postais. Uma cidade limpa e florida, grande e organizada. Mesmo fora da temporada de esquis a cidade ferve. Nesta época dezenas de excursões de adolescentes agitam as ruas e lotam os hotéis. Na maioria dos estabelecimentos onde buscamos vagas nos informaram que “los niños” haviam chegado antes. Dividimos espaço com eles no modesto Hotel Antártida, na rua Mitre, o centro comercial da cidade.
As lojas de grifes famosas ficam lado a lado com lojas de “artesanias” e artigos locais. E por tudo camisetas escrito “Bariloche” das mais variadas formas. Em geral a comida é cara, as roupas são caras, tudo é caro. Uma cidade turística com todas as mazelas que isto acarreta.
O Cerro Catedral, principal estação de esquis, mesmo sem sua lucrativa cobertura branca, atrai turistas que sobem os teleféricos só por curiosidade. Na beira do lago gelado muita gente se banha nas praias pedregosas. A proximidade do final de semana agita ainda mais a cidade.
Já vimos o que tinha que ser visto. Vamos voltar à estrada, enfrentar a lendária Ruta 40 (o adjetivo é meio sem graça, mas é isto que ela é) e sua paisagem na Patagônica árida e ventosa que existe além dos lagos. Vamos mais para o sul.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Chiloé, a ilha dos encantos
Quem me falou pela primeira vez com entusiasmo de Chiloé foi o Gustavo, amigo argentino radicado em Floripa. Ele rolava no chão lá de casa com meu cachorro e contava da isla mágica, de seus pescados, do Pacífico azul e outros encantos. Desde então esta porção de terra, localizada na metade sul do Chile, onde a América se debulha em centenas de ilhas, virou um destino obrigatório para mim. Quase mítico.
Hoje pela manhã atravessamos de balsa o canal de Chacao e desembarcamos neste reduto de bons pescados, lãs fantásticas e uma gente muito acolhedora. Andamos 100km de estrada boa para chegar a Castro, capital da Isla Grande de Chiloé. Cidade pequena graciosamente desorganizada e colorida. As casas de madeira e palafitas com cores vivas dão peculiaridade a um lugar onde a vida anda lenta como os barcos que se enredam no arquipélago. É a terceira cidade mais antiga do Chile, fundada em 1535. Suas muitas igrejas, invariavelmente construídas em madeira, são espetaculares. A catedral foi tombada como Patrimônio da Humanidade.
No Mercado de Artesanias, o povo chilote exibe com orgulhos suas lãs, extraídas de suas próprias ovelhas, fiadas e tecidas na forma de blusas, gorros, palas, mantas, bonecas. Tudo rusticamente requintado.
Mas não ficamos em Castro. Ali apenas matamos a curiosidade sobre o famoso salmão pescado pelos locais. No Palafito, suspenso sobre o canal, pedimos o peixe “a la plancha”, simplesmente grelhado para que nada disputasse com seu sabor. E o salmão quando é fresco realmente é diferente do que consumimos no Brasil, normalmente chileno. É mais leve, com sabor mais definido e menos adocicado. Fantástico.
Fizemos a digestão na estrada. Fomos para outra cidade da ilha, Ancud, empurrados pela intuição da Soninha. Cidade parecida com Castro nas cores e palafitas. O centro é mais confuso, com ruas estreitas, um pouco sujas e com pobreza mais evidente. Mas é gostosa, acolhedora e com natureza mais exuberante.
Na frente do Mercado Municipal descobrimos um anúncio de tour a uma pingüiñera. Descobrimos o que nenhum guia de turismo havia contado. Na Islota Puñuhuil há uma pingüineira, apenas 40 minutos da cidade. Trinta e poucos kms, a maior parte sem asfalto e com muitos buracos, contornando praias capazes de impressionar até quem está acostumado com Floripa.
Na praia de Puñuhuil, rodando pela areia mesmo, pescadores artesanais nos oferecem o tour até as ilhotas logo em frente, onde as aves desengonçadas se reproduzem. Embarcamos na lancha com roupa impermeável e por 40 minutos nos divertimos com os pingüins e, de quebra, lontras, cormorões e muitas gaivotas.
Puerto Montt
Antes de chegar a Chiloé dormimos em Puerto Montt. Cidade grande de frente para o mar e de costas para o vulcão Ozorno, que se enxerga de quase toda a cidade. É uma cidade de passagem para navegadores e viajantes. Na verdade, historicamente sempre foi assim. É bonita e tem tradição de servir bons frutos do mar no centro Angelmó, uma palafita de três andares onde dezenas de restaurantes minúsculos disputam a clientela que se refestela com salmões, mariscos, camarões, curantos (prato típico da região). São muitos restaurantes apertados em verdadeiros labirintos. Nenhum tem mais do que 4 ou 5 mesas. Os clientes sentam-se em banquinhos, pois cadeiras ocupariam muito espaço. Alguns estabelecimentos parecem ter higiene comprometida. Mas em geral a comida é boa e o ambiente divertido.
Ano novo
Viramos o ano ainda em Pucón, a cidade do vulcão. Perto da meia noite local (uma hora depois do Brasil) jantamos com reserva antecipada num restaurante da rua principal. Menu especial onde se destacou um tartar de krill (espécie de camarãozinho que alimenta as baleias) com tomates e abacate. Excepcional! O prato de fundo era um filé divinal, com molho e queijo e azeitonas acompanhado de batatas com roquefort. Logo depois do sorvete artesanal de framboesa com calda de menta aceleramos o passo para chegar na praia do lago, para a queima de fogos.
Umas 10 mil pessoas (o dobro da população da cidade) se acotovelou na preta areia vulcânica para ver um espetáculo pirotécnico de 20 minutos que não deixou nada a dever às festanças de Floripa.
Foi um réveillon em grande estilo.
Hoje pela manhã atravessamos de balsa o canal de Chacao e desembarcamos neste reduto de bons pescados, lãs fantásticas e uma gente muito acolhedora. Andamos 100km de estrada boa para chegar a Castro, capital da Isla Grande de Chiloé. Cidade pequena graciosamente desorganizada e colorida. As casas de madeira e palafitas com cores vivas dão peculiaridade a um lugar onde a vida anda lenta como os barcos que se enredam no arquipélago. É a terceira cidade mais antiga do Chile, fundada em 1535. Suas muitas igrejas, invariavelmente construídas em madeira, são espetaculares. A catedral foi tombada como Patrimônio da Humanidade.
No Mercado de Artesanias, o povo chilote exibe com orgulhos suas lãs, extraídas de suas próprias ovelhas, fiadas e tecidas na forma de blusas, gorros, palas, mantas, bonecas. Tudo rusticamente requintado.
Mas não ficamos em Castro. Ali apenas matamos a curiosidade sobre o famoso salmão pescado pelos locais. No Palafito, suspenso sobre o canal, pedimos o peixe “a la plancha”, simplesmente grelhado para que nada disputasse com seu sabor. E o salmão quando é fresco realmente é diferente do que consumimos no Brasil, normalmente chileno. É mais leve, com sabor mais definido e menos adocicado. Fantástico.
Fizemos a digestão na estrada. Fomos para outra cidade da ilha, Ancud, empurrados pela intuição da Soninha. Cidade parecida com Castro nas cores e palafitas. O centro é mais confuso, com ruas estreitas, um pouco sujas e com pobreza mais evidente. Mas é gostosa, acolhedora e com natureza mais exuberante.
Na frente do Mercado Municipal descobrimos um anúncio de tour a uma pingüiñera. Descobrimos o que nenhum guia de turismo havia contado. Na Islota Puñuhuil há uma pingüineira, apenas 40 minutos da cidade. Trinta e poucos kms, a maior parte sem asfalto e com muitos buracos, contornando praias capazes de impressionar até quem está acostumado com Floripa.
Na praia de Puñuhuil, rodando pela areia mesmo, pescadores artesanais nos oferecem o tour até as ilhotas logo em frente, onde as aves desengonçadas se reproduzem. Embarcamos na lancha com roupa impermeável e por 40 minutos nos divertimos com os pingüins e, de quebra, lontras, cormorões e muitas gaivotas.
Puerto Montt
Antes de chegar a Chiloé dormimos em Puerto Montt. Cidade grande de frente para o mar e de costas para o vulcão Ozorno, que se enxerga de quase toda a cidade. É uma cidade de passagem para navegadores e viajantes. Na verdade, historicamente sempre foi assim. É bonita e tem tradição de servir bons frutos do mar no centro Angelmó, uma palafita de três andares onde dezenas de restaurantes minúsculos disputam a clientela que se refestela com salmões, mariscos, camarões, curantos (prato típico da região). São muitos restaurantes apertados em verdadeiros labirintos. Nenhum tem mais do que 4 ou 5 mesas. Os clientes sentam-se em banquinhos, pois cadeiras ocupariam muito espaço. Alguns estabelecimentos parecem ter higiene comprometida. Mas em geral a comida é boa e o ambiente divertido.
Ano novo
Viramos o ano ainda em Pucón, a cidade do vulcão. Perto da meia noite local (uma hora depois do Brasil) jantamos com reserva antecipada num restaurante da rua principal. Menu especial onde se destacou um tartar de krill (espécie de camarãozinho que alimenta as baleias) com tomates e abacate. Excepcional! O prato de fundo era um filé divinal, com molho e queijo e azeitonas acompanhado de batatas com roquefort. Logo depois do sorvete artesanal de framboesa com calda de menta aceleramos o passo para chegar na praia do lago, para a queima de fogos.
Umas 10 mil pessoas (o dobro da população da cidade) se acotovelou na preta areia vulcânica para ver um espetáculo pirotécnico de 20 minutos que não deixou nada a dever às festanças de Floripa.
Foi um réveillon em grande estilo.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Um ano para ser feliz
Tem sido uma imensa alegria para nós abrir o blog e ler os comentários de amigos e parentes de todo lado. É como se recebêssemos carinho a cada dia, e um estímulo para seguir destapando horizontes.
Por isto esta mensagem tem a única meta de desejar a todos vocês um super 2008. Que não seja ano de planos, mas de realizações. Que não seja de desejos, mas de satisfações. Que seja de alegria e plenitude. Que todas as bênçãos de todos os credos recaiam sobre nós todos.
Que seja um ano de realizar a felicidade. Que tenhamos coragem de fazer tudo para ser feliz.
Que 2008, e toda a vida, sejam maravilhosos.
x-x-x-x-x-x-
A propósito, como Neruda esteve muito presente nesta viagem, e como, coincidentemente, dias atrás recebemos via internet um sugestivo poema dele, achamos que é oportuno publicá-lo abaixo. Afinal, é inspirador para um ano novo.
QUEM MORRE?
(Pablo Neruda)
Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo
Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajeto,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou
Não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções,
Justamente as que resgatam o brilho dos
Olhos e os corações aos tropeços.
Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto
Para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos...
Viva hoje !
Arrisque hoje !
Faça hoje !
Não se deixe morrer lentamente !
Não se esqueça de ser feliz.
Por isto esta mensagem tem a única meta de desejar a todos vocês um super 2008. Que não seja ano de planos, mas de realizações. Que não seja de desejos, mas de satisfações. Que seja de alegria e plenitude. Que todas as bênçãos de todos os credos recaiam sobre nós todos.
Que seja um ano de realizar a felicidade. Que tenhamos coragem de fazer tudo para ser feliz.
Que 2008, e toda a vida, sejam maravilhosos.
x-x-x-x-x-x-
A propósito, como Neruda esteve muito presente nesta viagem, e como, coincidentemente, dias atrás recebemos via internet um sugestivo poema dele, achamos que é oportuno publicá-lo abaixo. Afinal, é inspirador para um ano novo.
QUEM MORRE?
(Pablo Neruda)
Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo
Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajeto,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou
Não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções,
Justamente as que resgatam o brilho dos
Olhos e os corações aos tropeços.
Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto
Para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos...
Viva hoje !
Arrisque hoje !
Faça hoje !
Não se deixe morrer lentamente !
Não se esqueça de ser feliz.
E o vulcão apareceu!!!
O último café da manhã de 2007 foi apressado. Estávamos ansiosos para, finalmente, ver o Vulcón Villarica que até então era a atração invisível da bela cidade de Pucón, onde chovia há dois dias, desde que chegamos. Já na frente do hotel vimos a base cheia de gelo e o topo ainda coberto por nuvens. Em poucos minutos tomamos a rua que vai em direção à montanha, subimos a estrada de chão que leva à estação de esquis da cidade (que, logicamente, só funciona no inverno) e lá estávamos nós, com os pés no gelo vendo morro acima uns pontinhos pretos que eram alpinistas madrugadores que já iam a meio caminho da cratera. Mas diga-se a verdade, o cume passou o dia coberto por nuvens.
A beleza do Villarica é exuberante, mesmo com o cume anuviado.
A pequena Pucón é uma cidade de ruas floridas que se espreme entre o vulcão e o lago de mesmo nome. Nesta época do ano gente rica de todo o Chile, e muitos estrangeiros (especialmente europeus), vêm a ela para se banhar no lago azul, mesmo que os dias sejam razoavelmente frios. Há também termas vulcânicas que atraem pelas qualidades medicinais de suas águas quentes e sulfurosas.
A cidade parece a nossa Gramado. Florida, cheia de pessoas bonitas e educadas, lojas chiques e muitos, mas muitos, cafés e restaurantes. Como dia 30 choveu o dia inteiro, pudemos praticamente decorar o nome das poucas ruas que se entrelaçam organizadamente e por onde desfilam carrões das melhores e mais caras marcas. Na Municipalidad (a prefeitura daqui) há um estranho Semáforo de Alertas Vulcânicos, que lembra a gente de que o lindo Villarica ainda é capaz de cuspir fogo, o que justifica várias placas que orientam uma eventual fuga para áreas seguras da cidade.
Junto com o sol chegaram à cidade muitos jipes, caminhonetes e motos, aparentemente de viajantes como nós. Encontramos 2 casais de brasileiros de moto (um deles indo a Ushuaia) e um comboio de três camionetes prateadas do Clube do Jipeiro de Joinville, todas adesivadas com marcas da Expedição Lagos Andinos. Conversamos rapidamente na estrada que leva ao vulcão.
A chuva não estava nos planos, mas parar uns dias para descansar e tirar o pó da estrada era nosso desejo. Pucón já estava mapeada como porto onde veríamos 2007 virar passado.
Comida, comida
Quando chove, comer é a melhor alternativa para os turistas. A refeição que fizemos no elegante Madre Tierra certamente será lembrada por muito tempo. A casa monta um cenário de montanha, campestre. Apesar da cabeça de javali empalhada na parede, é muito bonito e sofisticado. O cardápio não vai muito além do tradicional da região, com boas opções de carnes, salmão e trutas. Fomos nas especialidades do chef e nos demos bem.
As costelinhas de porco certamente estavam marinando há um bom tempo antes de serem cuidadosamente grelhadas e servidas ao lado de uma torta de batatas coberta com queijo derretido, num prato de cerâmica muito quente. No outro prato, a mesma tortilha veio ao lado de um escalope de filet de cervo com cenouras. Este, por sua vez, marinado em vinho merlot ,que emprestou sua personalidade à carne. Divinas escolhas. Para completar o clima um senhor com seu bem executado violão cantava canções chilenas apaixonadas. Perfeito com a chuva que caía sobre o jardim florido que se via da janela.
Bons cafés, espressos de boa cepa, só são encontrados nos cafés e confeitarias. A regra entre os chilenos é consumir Nescafé, que é só o que existe nos hotéis e supermercados. Café em pó praticamente não existe.
Abacate
Nossa “política alimentar” (inspirada pela tesouraria da expedição) é fazer uma boa refeição por dia e se virar com lanches e opções mais em conta. Isto quase sempre dá certo. Mas em Pucón resolvemos terminar o dia iniciado gastronomicamente no Madre Tierra com um cachorro quente, pertinho do nosso hotel. Pedimos um completo. O atendente fez umas perguntas que não entendemos bem e respondemos que sim. E aí veio o lanche composto por um pão honesto e quentinho, uma salsicha vienense bem boa e... creme de abacate coberto com maionese em curvinhas perfeitas. Isso mesmo: abacate. E não era comida mexicana! Mas não ficou ruim. O lanche ficou até divertido, afinal, de certas coisas, só se pode rir.
A cidade parece a nossa Gramado. Florida, cheia de pessoas bonitas e educadas, lojas chiques e muitos, mas muitos, cafés e restaurantes. Como dia 30 choveu o dia inteiro, pudemos praticamente decorar o nome das poucas ruas que se entrelaçam organizadamente e por onde desfilam carrões das melhores e mais caras marcas. Na Municipalidad (a prefeitura daqui) há um estranho Semáforo de Alertas Vulcânicos, que lembra a gente de que o lindo Villarica ainda é capaz de cuspir fogo, o que justifica várias placas que orientam uma eventual fuga para áreas seguras da cidade.
Junto com o sol chegaram à cidade muitos jipes, caminhonetes e motos, aparentemente de viajantes como nós. Encontramos 2 casais de brasileiros de moto (um deles indo a Ushuaia) e um comboio de três camionetes prateadas do Clube do Jipeiro de Joinville, todas adesivadas com marcas da Expedição Lagos Andinos. Conversamos rapidamente na estrada que leva ao vulcão.
A chuva não estava nos planos, mas parar uns dias para descansar e tirar o pó da estrada era nosso desejo. Pucón já estava mapeada como porto onde veríamos 2007 virar passado.
Comida, comida
Quando chove, comer é a melhor alternativa para os turistas. A refeição que fizemos no elegante Madre Tierra certamente será lembrada por muito tempo. A casa monta um cenário de montanha, campestre. Apesar da cabeça de javali empalhada na parede, é muito bonito e sofisticado. O cardápio não vai muito além do tradicional da região, com boas opções de carnes, salmão e trutas. Fomos nas especialidades do chef e nos demos bem.
As costelinhas de porco certamente estavam marinando há um bom tempo antes de serem cuidadosamente grelhadas e servidas ao lado de uma torta de batatas coberta com queijo derretido, num prato de cerâmica muito quente. No outro prato, a mesma tortilha veio ao lado de um escalope de filet de cervo com cenouras. Este, por sua vez, marinado em vinho merlot ,que emprestou sua personalidade à carne. Divinas escolhas. Para completar o clima um senhor com seu bem executado violão cantava canções chilenas apaixonadas. Perfeito com a chuva que caía sobre o jardim florido que se via da janela.
Bons cafés, espressos de boa cepa, só são encontrados nos cafés e confeitarias. A regra entre os chilenos é consumir Nescafé, que é só o que existe nos hotéis e supermercados. Café em pó praticamente não existe.
Abacate
Nossa “política alimentar” (inspirada pela tesouraria da expedição) é fazer uma boa refeição por dia e se virar com lanches e opções mais em conta. Isto quase sempre dá certo. Mas em Pucón resolvemos terminar o dia iniciado gastronomicamente no Madre Tierra com um cachorro quente, pertinho do nosso hotel. Pedimos um completo. O atendente fez umas perguntas que não entendemos bem e respondemos que sim. E aí veio o lanche composto por um pão honesto e quentinho, uma salsicha vienense bem boa e... creme de abacate coberto com maionese em curvinhas perfeitas. Isso mesmo: abacate. E não era comida mexicana! Mas não ficou ruim. O lanche ficou até divertido, afinal, de certas coisas, só se pode rir.
sábado, 29 de dezembro de 2007
Um dia off-road
Visitar o Parque Nacional Siete Tazas foi sugestão da Vanessa Binder, que já percorreu estas bandas de Kombi, há muito tempo. Os guias de turismo o apontam como um dos mais belos parques do Chile. E como era quase caminho, no rumo sul, não vacilamos em considerar a visita nosso principal objetivo do dia.
Retornamos, pela mesma estrada que nos levou ao litoral, para Santiago e, pouco antes de chegar na cidade, tomamos a Ruta 5, a Carretera Panamericana, que corta o Chile de cima abaixo. Muitas vinícolas de rótulos conhecidos no mercado brasileiro pelo caminho (Santa Elena, Gato Negro, por exemplo). As vezes, a nossa esquerda, dava para ver picos nevados na cordilheira.
Depois do meio dia chegamos a Curicó. Cidade pequena e agitada onde comemos uma refeição barata em todos os sentidos. Dali, retornamos à carretera e logo chegamos a Molina. As placas indicativas nos levaram a uma estrada de chão bem ruim e estreita, de quase 50km. Chegamos chacoalhando e empoeirados ao parque onde, além do “guarda parque”, havia uma única família de chilenos visitando.
Caminhamos por uma trilha e, quando vimos as Siete Tazas, deslumbramos. Uma formação estranha: a água de degelo dos glaciares (milhões de anos, entende?) cavou no meio de montanhas caminhos para a água passar. A erosão criou sete degraus com espelhos de água azul turquesa em formas rigorosamente redondas. É como se a água saísse milagrosamente do meio da rocha. Tudo num parque bem cuidado, com trilhas bem organizadas e muitas placas indicativas e educativas.
Na volta, para não retornar sobre o próprio rastro, pegamos outro caminho sem pavimentação. Mais uns 50km em que o Capitão Rodrigo precisou dizer a que veio. Realmente um caminho off-road. Economizamos estrada e chegamos a Talca, capital da região. Lugar estranhamente grande, onde as ruas têm dois nomes: Sur 1, 2, 3, etc, e as perpendiculares Oriente 1, 2, 3, etc.
Quase na esquina da Sur 2 com Oriente 7 encontramos o hotel Cordilheira. Acolhedor, limpinho e bem atendido. Andamos umas quadras para encontrar o que, possivelmente, é o que a cidade tem de melhor: o restaurante de uma cabanha que serve pratos de carne fenomenais, a preços muito razoáveis.
Aproveitamos a conexão de internet wi-fi (a cobertura de internet do Chile é impressionante) do hotel para atualizar este blog. Amanhã voltaremos cedo para a Carretera Panamericana, rumo ao sul, cada vez mais.
Retornamos, pela mesma estrada que nos levou ao litoral, para Santiago e, pouco antes de chegar na cidade, tomamos a Ruta 5, a Carretera Panamericana, que corta o Chile de cima abaixo. Muitas vinícolas de rótulos conhecidos no mercado brasileiro pelo caminho (Santa Elena, Gato Negro, por exemplo). As vezes, a nossa esquerda, dava para ver picos nevados na cordilheira.
Depois do meio dia chegamos a Curicó. Cidade pequena e agitada onde comemos uma refeição barata em todos os sentidos. Dali, retornamos à carretera e logo chegamos a Molina. As placas indicativas nos levaram a uma estrada de chão bem ruim e estreita, de quase 50km. Chegamos chacoalhando e empoeirados ao parque onde, além do “guarda parque”, havia uma única família de chilenos visitando.
Caminhamos por uma trilha e, quando vimos as Siete Tazas, deslumbramos. Uma formação estranha: a água de degelo dos glaciares (milhões de anos, entende?) cavou no meio de montanhas caminhos para a água passar. A erosão criou sete degraus com espelhos de água azul turquesa em formas rigorosamente redondas. É como se a água saísse milagrosamente do meio da rocha. Tudo num parque bem cuidado, com trilhas bem organizadas e muitas placas indicativas e educativas.
Na volta, para não retornar sobre o próprio rastro, pegamos outro caminho sem pavimentação. Mais uns 50km em que o Capitão Rodrigo precisou dizer a que veio. Realmente um caminho off-road. Economizamos estrada e chegamos a Talca, capital da região. Lugar estranhamente grande, onde as ruas têm dois nomes: Sur 1, 2, 3, etc, e as perpendiculares Oriente 1, 2, 3, etc.
Quase na esquina da Sur 2 com Oriente 7 encontramos o hotel Cordilheira. Acolhedor, limpinho e bem atendido. Andamos umas quadras para encontrar o que, possivelmente, é o que a cidade tem de melhor: o restaurante de uma cabanha que serve pratos de carne fenomenais, a preços muito razoáveis.
Aproveitamos a conexão de internet wi-fi (a cobertura de internet do Chile é impressionante) do hotel para atualizar este blog. Amanhã voltaremos cedo para a Carretera Panamericana, rumo ao sul, cada vez mais.
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