Num dia nublado chegamos Ushuaia. Após 8 mil km tornou-se impossível ir mais ao sul. Passamos do Paralelo 50 e mais abaixo só há gelo, a Antartida. As nuvens eram poucas para esconder a beleza da cidade pequena espremida entre o canal de Beagle e o final da Cordilheira dos Andes, aqui chamada de Cordilheira Darwin. O lugar é parte importante da história das navegações. Foi e ainda é um espaço cosmopolita onde desembarca gente de todo o mundo vinda por terra, água ou ar.
A cidade está cheia, mas o eficiente serviço de informações turísticas em alguns minutos levantou o nosso perfil e com alguns telefonemas nos indicou dois hotéis com disponibilidade, indicando os preços. Com a ajuda do GPS subimos ladeiras e ruas tortas para encontrar vaga por duas noites. Malas descarregadas, agora era conhecer a cidade.
Voltamos o serviço de informações turísticas e desta vez saímos com uma relação completa de todas as atrações da cidade com indicações de preços, opções de deslocamento, mapas. Um show de atendimento. Optamos por dedicar o dia a conhecer o centro, andar no porto, fotografar a cidade, visitar museus. Aproveitamos o sol até quase ele desaparecer, e em Ushuaia ele só vai embora perto da meia noite.
Não é uma cidade com muitas atrações. A mística do fim do mundo associada a um pequeno comércio e uma rede limitada de opções gastronômicas sustenta bem o lugar com uma receptividade cativante.
Lapataia
De manhã saímos 12km da cidade para entrar no Parque Nacional Tierra Del Fuego. Suas trilhas e miradores mostram a beleza natural da região. Castoreiras mostram o que aquele bichinho bonito e dentuço (introduzido na região pelos colonizadores) é capaz de fazer com a vegetação, derrubando árvores enormes para construir seus diques. Nos bosques lebres saltitam alheias a barulheira dos turistas.
O ponto alto do parque é o seu extremo. A placa que anuncia o final da Ruta 3 e a chegada à bela baía de Lapataia, no setor oeste do canal de Beagle. É aqui o fim do mundo para quem vai por terra.
Ao mar
A tarde embarcamos no catamaram Ushuaia Explorer para navegar pelo canal de Beagle. As águas tranqüilas de um raro dia sem vento nos levaram a pontos históricos como o farol do canal e a ilhas lotadas de cormorões imperiais, leões marinhos de um e dois pelos e muitos pingüins de magalhães.
A embarcação chega a ser luxuosa e leva a turistada a poucos metros dos animais que parecem posar para as fotos. Os pingüins se aproximam curiosos. Os leões marinhos seguem seus banhos de sol impassíveis e preguiçosos. As outras aves parecem festejar em suas revoadas ruidosas.
Gelo
No domingo de sol subimos o Glaciar Martial, pertinho da cidade. Coisa de 1.800 metros de altitude, boa parte dos quais de sobe num teleférico (terapia para quem tem vertigem de altura, como eu). Uma caminhada leva a base do glaciar onde já se pode brincar com o gelo que resiste ao verão e que faz a alegria dos visitantes.
Aliás, há visitantes de todo tipo. Desde os ciclistas e mochileiros que se encontra na estrada, até as excursões de terceira idade. E muitos jipeiros, alguns bem inconvenientes. Uma expedição de brasileiros com umas 15 Land Rover atazana a vida da cidade. Onde chegam falam alto de suas compras, se comunicam por meio de rádio mesmo que o interlocutor esteja na mesa ao lado. Uma chatice.
Mas encontramos também gente boa. Uma família de Floripa viajando numa Sprinter, um casal Trolleiro simpático e outro casal de Floripa com uma Land Rover. Gente do bem.
La Centolla
Quem chega a Ushuaia tem que comer centolla. Um crustáceo, um caranguejo grande que parece uma lagosta. Pescado ali no canal é servido em quase todos os bons restaurantes da cidade. Escolhemos o Casa Del Marisco, pequeno e familiar. A Centolla Fueguina vem numa tigela ensopada com um mistura de molho branco com pimentão. Mas pedimos também uma Cazuela de Polvo com Centolla.
A centolla tem sabor delicado, muito influenciável pelos outros ingredientes. Na cazuela ficou um pouco oprimida pela intensidade do polvo. Na moda fueguina ficou mais livre para revelar seu sabor que mistura um pouco de camarão com a textura do siri. Mas acho que a melhor definição é “gosto de centolla”.
Valeu a pena e vai deixar saudade.
Pensamentos inevitáveis
Impossível chegar a Ushuaia sem uma certa emoção. A mística do fim do mundo ajuda, mas a gente se põe a pensar nas margens daquelas águas históricas. Estar ali tem para nós um significado talhado pelas dificuldades de chegar. Não a dificuldade das estradas, que isto é parte da diversão. Mas a trajetória sinuosa de doença percorrida duramente, mas sempre animada por uma vontade enorme de viver para ser feliz, realizar viagens como estas e muitas outras grandes e pequenas. Ou, simplesmente, melhor fazer a grande viagem cotidiana do convívio com os amigos e parceiros de todo o tipo.
É como diz a frase promocional da cidade: “Fim do mundo, princípio de tudo”. Claro que esta viagem não é o fim de nada é só mais um capítulo de uma história em que se faz tudo para ser feliz.
PS.: O bom observador percebeu na foto que a grande meta desta jornada era fazer tremular no fim do mundo o Pavilhão Tricolor. Não viemos a pé, mas o Grêmio está onde a gente estiver.
A cidade está cheia, mas o eficiente serviço de informações turísticas em alguns minutos levantou o nosso perfil e com alguns telefonemas nos indicou dois hotéis com disponibilidade, indicando os preços. Com a ajuda do GPS subimos ladeiras e ruas tortas para encontrar vaga por duas noites. Malas descarregadas, agora era conhecer a cidade.
Voltamos o serviço de informações turísticas e desta vez saímos com uma relação completa de todas as atrações da cidade com indicações de preços, opções de deslocamento, mapas. Um show de atendimento. Optamos por dedicar o dia a conhecer o centro, andar no porto, fotografar a cidade, visitar museus. Aproveitamos o sol até quase ele desaparecer, e em Ushuaia ele só vai embora perto da meia noite.
Não é uma cidade com muitas atrações. A mística do fim do mundo associada a um pequeno comércio e uma rede limitada de opções gastronômicas sustenta bem o lugar com uma receptividade cativante.
Lapataia
De manhã saímos 12km da cidade para entrar no Parque Nacional Tierra Del Fuego. Suas trilhas e miradores mostram a beleza natural da região. Castoreiras mostram o que aquele bichinho bonito e dentuço (introduzido na região pelos colonizadores) é capaz de fazer com a vegetação, derrubando árvores enormes para construir seus diques. Nos bosques lebres saltitam alheias a barulheira dos turistas.
O ponto alto do parque é o seu extremo. A placa que anuncia o final da Ruta 3 e a chegada à bela baía de Lapataia, no setor oeste do canal de Beagle. É aqui o fim do mundo para quem vai por terra.
Ao mar
A tarde embarcamos no catamaram Ushuaia Explorer para navegar pelo canal de Beagle. As águas tranqüilas de um raro dia sem vento nos levaram a pontos históricos como o farol do canal e a ilhas lotadas de cormorões imperiais, leões marinhos de um e dois pelos e muitos pingüins de magalhães.
A embarcação chega a ser luxuosa e leva a turistada a poucos metros dos animais que parecem posar para as fotos. Os pingüins se aproximam curiosos. Os leões marinhos seguem seus banhos de sol impassíveis e preguiçosos. As outras aves parecem festejar em suas revoadas ruidosas.
Gelo
No domingo de sol subimos o Glaciar Martial, pertinho da cidade. Coisa de 1.800 metros de altitude, boa parte dos quais de sobe num teleférico (terapia para quem tem vertigem de altura, como eu). Uma caminhada leva a base do glaciar onde já se pode brincar com o gelo que resiste ao verão e que faz a alegria dos visitantes.
Aliás, há visitantes de todo tipo. Desde os ciclistas e mochileiros que se encontra na estrada, até as excursões de terceira idade. E muitos jipeiros, alguns bem inconvenientes. Uma expedição de brasileiros com umas 15 Land Rover atazana a vida da cidade. Onde chegam falam alto de suas compras, se comunicam por meio de rádio mesmo que o interlocutor esteja na mesa ao lado. Uma chatice.
Mas encontramos também gente boa. Uma família de Floripa viajando numa Sprinter, um casal Trolleiro simpático e outro casal de Floripa com uma Land Rover. Gente do bem.
La Centolla
Quem chega a Ushuaia tem que comer centolla. Um crustáceo, um caranguejo grande que parece uma lagosta. Pescado ali no canal é servido em quase todos os bons restaurantes da cidade. Escolhemos o Casa Del Marisco, pequeno e familiar. A Centolla Fueguina vem numa tigela ensopada com um mistura de molho branco com pimentão. Mas pedimos também uma Cazuela de Polvo com Centolla.
A centolla tem sabor delicado, muito influenciável pelos outros ingredientes. Na cazuela ficou um pouco oprimida pela intensidade do polvo. Na moda fueguina ficou mais livre para revelar seu sabor que mistura um pouco de camarão com a textura do siri. Mas acho que a melhor definição é “gosto de centolla”.
Valeu a pena e vai deixar saudade.
Pensamentos inevitáveis
Impossível chegar a Ushuaia sem uma certa emoção. A mística do fim do mundo ajuda, mas a gente se põe a pensar nas margens daquelas águas históricas. Estar ali tem para nós um significado talhado pelas dificuldades de chegar. Não a dificuldade das estradas, que isto é parte da diversão. Mas a trajetória sinuosa de doença percorrida duramente, mas sempre animada por uma vontade enorme de viver para ser feliz, realizar viagens como estas e muitas outras grandes e pequenas. Ou, simplesmente, melhor fazer a grande viagem cotidiana do convívio com os amigos e parceiros de todo o tipo.
É como diz a frase promocional da cidade: “Fim do mundo, princípio de tudo”. Claro que esta viagem não é o fim de nada é só mais um capítulo de uma história em que se faz tudo para ser feliz.
PS.: O bom observador percebeu na foto que a grande meta desta jornada era fazer tremular no fim do mundo o Pavilhão Tricolor. Não viemos a pé, mas o Grêmio está onde a gente estiver.
11 comentários:
Enfim, Ushuaia.... Viajei com vcs a cada nova descoberta: gastronômica, geográfica e histórica. Quem sabe, qd a Clara for um pouco maior e souber aproveitar em vez de só ficar cansada, nos acompanhe numa aventura dessas tb... É isso meu querido mestre... Muitos outros capítulos serão registrados na história das suas vidas... Bom retorno... Estamos com saudades....
Alessandra.
PS. Só não gostei daquele pano de chão em frente ao marco de Ushuaia. A foto ficaria muito mais linda se fosse vermelho e branco!!!
salve, salve! se vivo fosse, o companheiro Lupicínio Rodrigues certamente acrescentaria um verso ao hino do imortal tricolor em homenagem ao desbravador que leva nosso símbolo ao ponto onde tudo termina - ou começa... ou não, como diria aquele filósofo baiano...
Grandes imagens, queridos amigos! Muito bacana acompanhá-los por las carreteras del continente!
Besos!
Gastao, que belíssima viagem. Conheco alguns dos lugares. Estive em Ushuaia e no Perito Moreno em 2003. Adorei. Chegamos no fim do mundo em um dia ensolarado e frio.
Também estive no Chile e subi o Villarica (até a metade, mais ou menos)mas isso faz tempo, 2001, acho.
A América è linda, nao è?
Já que gostas de viajar, na próxima, vai até o Salar de Uyuni, na Bolívia. Fomos agora, nessa viagem que estamos fazendo, e é o cenário mais belo e diferente que já vi. Tem fotos no http://fotosefronteiras.blogspot.com
Um beijao pra ti e pra Soninha e boa viagem,
Silvia
Tava tudo indo bem , até a foto com a bandeira.......
Lamentável
Queridos Gastão e Soninha,
Estivemos meio fora do ar, em férias e só hoje acessamos o blog. Alvaro ainda vai "viajar" pelos textos e fotos e enviar a vocês um comentário. Também vou ler com mais calma, mas lembrei de um filme francês que vimos na semana passada, com o título " A coragem para amar" e juntando com o poema do Neruda (postado por vocês), o filme desta viagem se chamaria " A coragem para ser feliz". Uma experiência tão especial, um presente que vocês dão aos amigos que ficam aqui assistindo de camarote. E por falar em camarote, lembramos de arquibancada, que nos fez lembrar de futebol, que nos levou à imagem da bandeira...A bandeira do GRANDE TIME (apesar de não torcermos para nenhum), agora parte integrante da história de Ushuaia.
Beijos,
Ana e Alvaro
Soninha e gastão!
Nossa!! Que viagem maravilhosa, dessas que deixam leve a alma, a cabeça, o coração...
Ficamos fora de casa depois do Natal, em Floripa e na nossa casa, e voltamos ontem, amanhã vou pra BH. Estava curiosa por notícias de vocês.
Soninha, dia 7 foi mar e sol, bem bonito, estávamos na Lagoinha e dei um mergulho especial por você! Pensei: não imagino melhor forma de passar o aniversário do que numa viagem como essa de vocês!
Essa coragem, a persistência, a solidariedade, nessa beleza toda, é o que importa, meus amigos!
Mil beijos! Ótima viagem!
Jacque
GASTÃO, o mundo - e a vida - tem sim, início e fim. Sempre,todos os dias, a cada momento. Ushuaia é só uma ponta deste novelo que a gente vai desenrolando e......dando boas risadas. E esta viagem, pelo jeito, é cheia de eternidades.
Beijo nos dois.
Guilherme.
Muito legal...valeu o conquistado...
a proposito...dá-lhe Imortal Tricolor...
luis fernando, marcia,maria rosa
Gastão e Soninha,
Estive três semanas na Amazônia, entre Belém e Santarém do Pará, e só agora pude acessar o blog. Está uma belezura!!!
Aproveito para lhes desejar, atrasado mesmo, os votos de um felicíssimo 2008, lembrando os versos de "Encontros e despedidas":
"A hora do encontro
é também despedida
a plataforma dessa estação
é a vida desse meu lugar,
é a vida".
Muita saúde, harmonia, paz e AMOR na vida de vocês!!!
Samuca
Tenho que concordar com alguns comentários aqui. Tava indo tudo muito bem: leões marinhos, pinguins, pelicanos, vulcões e tal. Daí, aquela foto com a tal bandeirola gaudéria...hummm.
Beijão pra vcs :)
NOssa, vais me dar uma consultoria para semelhante empreitada. Amei saber q estás bem e feliz.
Postar um comentário