sábado, 12 de janeiro de 2008

A Terra era assim. 3 milhões de anos atrás







O glaciar Perito Moreno é um campo de gelo de 247 Km2 que desce da cordilheira e se esparrama sobre o lago Argentina, bloqueando a passagem de água entre dois de seus braços. Acima da água se ergue uma parede de 60m de altura. Abaixo da linha d’água o bloco de gelo chega a 140m. Tudo que se possa dizer sobre a sensação de estar diante deste testemunho de como era o planeta há três milhões de anos deve ser superlativo. Todas as figuras de comparação são piegas e insuficientes para descrevê-lo. Nem o adjetivo “indescritível” resolve a demanda.
Para completar, o espetáculo é dinâmico. Perito Moreno é o único glaciar em movimento. Todos os dias ele avança sobre o lago que, por sua vez, resiste. O resultado, que estabelece o equilíbrio necessário, é que, vez que outra, blocos enormes de gelo se desprendem da parede e quebram a tranqüilidade azul do lago, em estrondos colossais. Quando isto acontece os turistas deliram e aplaudem nas passarelas que permitem uma visão panorâmica do glaciar, especialmente de sua parede norte.
Paga-se 40 pesos por pessoa para entrar no bem estruturado Parque Nacional dos Glaciares. Funcionários e jovens voluntários são atenciosos. Dentro dele há transporte gratuito em vans até as passarelas. Barcos confortáveis, por mais 38 pesos por cabeça, carregam turistas como nós até bem perto do paredão branco e azul, a uma distância segura (uns mil metros, talvez) com relação às quedas de gelo.
O parque é a principal e melhor atração de El Calafate. Cidade pequena, elegante, bonita, na margem do maior lago de água doce do território argentino. A cidade vive de turismo e nesta época está lotada. Muitos brasileiros chegam de avião e muitos jipeiros e motociclistas, em expedições organizadas, desfilam uniformizados e com os veículos caracterizados.
Quando respirávamos os primeiros ares da cidade, andando pela rua principal, alguém me chama por nome e sobrenome. Era a Rosana Pozzobom e seu filho Francisco, que já passa dos 20 anos. Papo gostoso numa esquina com direito a algumas dicas da cidade. Mas a Sana e o Chico estavam de partida para o aeroporto.
No posto e informações turísticas conseguimos driblar a dificuldade de encontrar alojamento. Com uma lista de disponibilidades e preços um atendente jovem e prestativo nos indicou umas cabanas gostosas no meio de um jardim de inverno floridíssimo. O preço era razoável e ficamos.
De resto, a cidade é composta por muitas lojas de artesanato bem caros. Restaurantes razoáveis, mas também caros, e muitas agências de excursões para cidades vizinhas como El Chaltén, de onde viemos.
Pratos Patagônicos
A previsão de que choveria por pelo menos mais dois dias nos empurrou para fora de El Chaltén, mesmo sem termos avistado o Cerro Torre. O cerro Fitz Roy passou quase pleno por nossos olhos quando chegamos na cidade, mas não conseguimos chegar à sua base.
Sem poder ver os cerros fomos para o restaurante La Casita. Casa simples pintada de cor-de-rosa feio, que anuncia comida típica da Patagônia. As quatro mulheres agitadas que comandam o estabelecimento recomendaram o Cordeiro Al Assador e a Lenteja Patagônica. O cordeiro criado na região vem em pedaços grandes e chuletas, temperados só com sal e chimichurri, e assados na chapa. Vem à mesa numa grelha com carvão. Um prato simples e objetivo, que ressalta o sabor profundo da carne muito tenra e fresca. A sua gordura é entranhada nas fibras e resulta suave, diferente das ovelhinhas que comemos no Brasil.
As “lentejas” são lentilhas servidas quase numa sopa campeira em que vai arroz, carne, batatas, cenoura e um tempero forte, liderado por pimentão. Um prato rústico e compatível com o frio instalado em pleno janeiro. Talvez seja uma mostra mais efetiva de um prato regional. Saboroso e nutritivo.
Na terra do fogo
De El Calafate partimos para o sul, rumo a Ushuaia. Passamos por Rio Gallegos e seguimos rumo às fronteiras. Como a Terra do Fogo é um território dividido entre Argentina e Chile, temos que cruzar uns 150 km em território chileno (mais de 100 sem asfalto) para chegar ao nosso destino. São quatro aduanas ao todo, com filas e carimbos a vontade.
Para chegar à Tierra Del Fuego propriamente dita, temos que cruzar o Estreito de Magalhães (que liga o Atlântico ao Pacífico) em uma balsa. Muito vento, mar agitado. Nos 25 minutos de travessia o barco carregado de carros e caminhões adernou, subiu ondas, enquanto crianças se agarravam a seus pais e algumas mulheres tinham chiliques. Homens valentes ficavam sérios sentados no salão de passageiros no segundo andar do barco, cujas janelas eram constantemente lavadas pelas ondas. No convés, os veículos tomavam banho de água salgada.
Rio Grande
Se fossemos até Ushuaia direto, chegaríamos lá por volta da meia noite, o que seria inconveniente. Pernoitamos em Rio Grande, a outra cidade de porte da região, umas duas horas antes do nosso destino. Com dificuldade, conseguimos vaga num hotel em cujo restaurante se serve a principal iguaria do local, a Truta Negra, que só existe no rio que tem o nome da cidade.
É uma truta de carne mais avermelhada. Servida grelhada, com molho de vinho tinto, a carne sobressai num sabor leve, que contrasta com o rigor do vinho. Num molho forte de cebolas e roquefort, chamado de “fueguino”, a truta vira o ponto de equilíbrio do prato como que apartando a briga de dois gostos muito acentuados. O resultado é incrivelmente harmonioso.
Reta final
Publicar este texto é a última tarefa antes de pegar a estrada para Ushuaia. Daqui a pouco o mundo acaba.


PS.: Na verdade já estamos em Ushuaia. Não postamos antes porque a internet aqui é ruim e cara. Logo contaremos como é a vida por aqui.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amei essas geleiras, que loucura! Fiquei procurando o Cid, o Diego, o Manfred e o esquilo. Se toparem com um deles, por favor, peçam um autógrafo!! =))

beijos!

Anônimo disse...

Muiiito massa....
mais fotos soninha!!
Arno