Neruda comia muito e perto de casa

Pablo Neruda geralmente comia perto de casa. Há duas quadras de sua “Chasconha” (que quer dizer "escabelada", em menção aos cabelos de sua mulher, Matilde) encontrava o Venezia, restaurante popular com pratos fartos a preços justos. O restaurante, que era ponto do poeta nos anos 30 e 40, ainda existe com seu piso de madeira irregular, freguesia local, cardápio variado e, agora, muita fotos do seu ilustre freqüentador nas paredes.
Foi no Venezia que almoçamos. Atendeu-nos um garçom simpático que parece ser contemporâneo de Neruda. Pedimos um Pisco Sour, uma espécie de caipirinha chilena, feita com pisco, suco de limão siciliano e açúcar que cai muito bem com os pãezinhos únicos, quentes e frescos que são servidos com manteiga da boa.
Extenuados pelos bifes de chorizo argentinos, resolvemos pedir frango. “1/2 polo com guarnicion”, dizia o cardápio. Imaginamos que tratava-se de um galeto, e pedimos. Quando nos serviram duas travessas, cada uma com metade de uma enorme galinha assada, ficamos sem jeito. Os espelhos desfocados e antigos que adornam as paredes mostraram dois rostos corados de vergonha. Mas, olhando para os lados, vimos que pratos gigantes fazem parte do cenário e do hábito dos freqüentadores. Era muita comida, acompanhada por uma montanha de batatas fritas e uma sortidíssima salada. O frango era bom, bom tempero, assado no ponto de ficar suculento com casquinha crocante. Uma enorme delícia, da qual boa parte teve que restar no prato.
Poesia
Vencidos pelo frango, saímos pelas ruas do bairro Bela Vista, repleto de bares, restaurante e discotecas, até o lugar onde morava o poeta, que hoje é um museu mantido pela Fundação Neruda. A visita guiada dura cerca de uma hora e é barata. Andar pelos aposentos da casa é como partilhar a vida de Pablo, entender seus caprichos e sonhos, beber um pouco na fonte de seu tempo e de seus poemas. Suas coleções de copos coloridos, garrafas, máscaras e objetos de navegação dão ênfase à palavra museu. E os quadros dos amigos do porte de Diego Rivera transformam a Chasconha numa sofisticada galeria de arte. É emocionante. Só este programa já teria justificado a passagem por Santiago.
Pré-colombiano
A visita matinal ao Museo Nacional de Arte Pré-colombiana (que fica três quadras do nosso hotel) é impressionante. O acervo tem 3 mil obras resgatadas de sítios arqueológicos que reconstituem boa parte da história de culturas Inca, Maia, Nazca, Moche, entre outras. Histórias de mil anos a.C.. É instigante pensar em como o cristianismo solapou aqueles povos tão desenvolvidos, com as artes tão amadurecidas e tudo o que isto pode representar culturalmente.
Santiago não tem muito para ver. A maioria das atrações estão em volta de nosso ponto de hospedagem. O Senado quase na porta. O prédio histórico do ex- congresso no outro lado da esquina. A Plaza de Armas há duas quadras. A catedral há uma. Ao palácio La Moneda, sede do governo, se chega andando três quadras.
Daqui a pouco sairemos rumo ao Litoral. Hoje veremos o por do sol no Pacífico, em Valparaíso.