Um dia para vencer distâncias. E a Policia Caminera.

Vinte pesos. É este o preço da simpatia de um Policia Caminera na Argentina. Os achaques de policiais a turistas na Ruta 14 são famosos, mas evitamos o trecho em que eles são mais habituais. Em vão. Exatamente na “esquina”da Ruta 14 com a 127 um policial gordo e suado nos abordou diretamente com a frase “estamos arrecadando para as festas”. Alegre, teceu comentários sobre a excelência e beleza de nosso carro. Esclareceu que se não pudéssemos contribuir não haveria problema. Lá se foram 20 pesos, coisa de R$ 13,00.
Não mais do que uns 40 Km adiante, outro posto de controle. Desta vez o policial também estava suado, mas era magro e jovem. Quando abri a janela ele abriu um sorriso e bateu carinhoso no capô do carro. “Belo carro”. E estendeu a mão com um manual de primeiros socorros que estava sendo vendido “para ajudar”. Um carimbo indicava $20. Estendemos 20 pesos, mas ele disse que referia reais ou dólares. Mantivemos a posição na moeda local e ele cedeu. A estratégia é clara: $20, não importa a moeda... E ele ainda perguntou por “regalitos del Brasil”.
Desde então os momentos mais tensos da viagem são as passagens pela Policia Caminera. Há sempre 20 pesos a mão para as emergências.
Saímos atrasados de São Miguel e pegamos boa estrada até São Borja onde almoçamos num restaurante a quilo perto da praça principal. Logo fomos na direção da ponte da Integração. Chegamos na aduana sob um sol pleno e muito calor. Os policiais Perez, Nuñes e Menez verificaram os passaportes e a documentação do carro. Tudo OK. Na alfândega brasileira um santamariense abrigado num cubículo refrigerado contou que mora em Santa Maria e viaja a cada três dias para cumprir a escala 12/36 horas. Preenchi a lista de equipamentos a serem declarados: notebook, câmera fotográfica, lentes, filmadora. Ele não leu a lista, não conferiu nada e carimbou.
E lá fomos nós pela Ruta 14, que tem uma primeira parte reta e monótona. Movimento moderado permitiu boa velocidade. Fomos a Passo de os Libres e, seguindo a Ruta 14, depois a 127, chegamos no início da noite a Santa Fé.

O quarto elemento

Amália foi promovida de acessório a membro efetivo da tripulação. Falamos da voz de sotaque lusitano que nos orienta o rumo no GPS. Ela deu demonstrações de comprometimento e eficiência que nos emocionaram.
Sugeriu caminhos mais curtos e operacionais do que os indicados pelos nossos mapas impressos e pelo prestigiado site www.ruta0.com. Depois de Libres nos assustamos. Uma das estradas indicadas estava fechada e em obras. Amália calculou precisamente uma outra rota e com extrema precisão nos devolveu ao rumo certo.
O maior desafio, no entanto foi a chegada à Santa Fé. Cidade grande, trânsito complicado, um túnel sub-fluvial, muitas vias em obras. Tudo isso às 8 da noite, horário local, já escuro. As orientações foram precisas, mas o sistema de posicionamento por satélite deu um show e ganhou a nossa confiança definitiva. Nos deixou no entrevero centro e ainda nos indicou um bom hotel, com preços interessantes e algum conforto.
Na verdade, temíamos pela qualidade do mapeamento argentino. Os mapas para GPS na América Latina são feitos por voluntários. No caso argentino, o pessoal do Projeto Mapear se mostrou eficiente demais. Esperamos ter o mesmo sucesso no Chile.
Nossa passagem em Santa Fé se limitou a uma caminhada de duas quadras até o Citi Sports, um bar temático de futebol onde comemos bem e pagamos pouco ao lado de uma camiseta da seleção celeste autografada por Sorin.
Mañana, tempranito, sairemos rumo a Mendoza. Os primeiros dias são para vencer distâncias.