sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Na terra vermelha das missões, a primeira parada

Há 30 anos, todos os dias, quando o sol se põe em São Miguel das Missões, acontece o espetáculo Som e Luz, um engenhoso show de efeitos luminosos e sonoros em que as ruínas da redução jesuítica de São Miguel travam um diálogo bem literário com a Terra, mãe dos índios Guaranis que habitavam o lugar até os idos de 1754. Foi justamente quando o sol vermelho começava a se esconder que estacionamos ao lado do Patrimônio Histórico da Humanidade. Havíamos cumprido nosso primeiro dia de estrada quase às 21 horas, horário marcado para a apresentação.
O cansaço pela jornada que começou perto das 11horas não nos impediu de saltar do jipe para o guichê, onde se paga R$ 5,00 pelos ingressos para assistir o espetáculo, numa improvisada arquibancada de três degraus discretamente localizada no amplo gramado que circunda a ruína da catedral de São Miguel, capital dos Sete Povos das Missões. Com mais um centena de turistas ouvimos a emocionante história de como portugueses e espanhóis se uniram para acabar com o que alguns consideram a primeira experiência genuinamente comunista da história: sete cidades erguidas por padres jesuítas espanhóis e índios Guaranis. Sete cidades prósperas onde a comida era farta e as artes, especialmente a escultura e a música, faziam parte do cotidiano.
Não vamos falar do heroísmo do índio Sepé Tiaraju, que liderou a resistência inglória dos nativos porque não é este o nosso assunto. Temos que falar que deixamos Floripa sob chuvisco. Na saída passamos no consulado do Chile para pegar o dito papel que nos atrasou a saída por alguns dias. Já na subida da serra, na BR 282, o sol reapareceu e nos acompanhou até o noroeste gaúcho.
Viagem tranqüila, mas com muitos caminhões na estrada. A paisagem de morros e vales que nos acompanhou na subida ao planalto serrano, até Lages, a partir de Vacaria é substituída por vastas e belas plantações de soja e milho. Ao lado delas placas da Pioneer indicam a variedade das sementes, provavelmente geneticamente modificadas. Transgênicos, em bom português. As lavouras imensas ladeiam a BR 285, que alterna trechos bem sinuosos com retas bastante longas, num interminável sobe e desce de coxilhas. A qualidade da estrada é irregular. Paga-se 4 pedágios de R$ 5,20 (um ainda na BR 116) para trafegar nos trechos mais íntegros.
Em São Miguel ficamos na charmosa Pousada das Missões. Misto de hotel com Albergue da Juventude, está com bastante movimento, embora não tenhamos tido a menor dificuldade para conseguir um apartamento confortável, com bom chuveiro, café da manhã e preço honesto.
Como a pousada não tem restaurante, passeamos de mãos dadas sob o luar missioneiro até a pizzaria da cidade, obviamente o único estabelecimento aberto às 11 da noite. A pizza de calabresa servida em bandeja de papelão não enseja maiores comentários. Nem se compara com o empadão de frango que comemos durante a viagem, produzido em casa, na véspera. A noite de sono sim, foi reparadora.
Antes de pegar a estrada novamente, rumo a São Borja e, depois, para terras castelhanas, tomamos um café da manhã generoso. Arrumamos a bagagem e realizamos a última visita ao sítio Arqueológico de São Miguel de Arcanjo. Fotografamos sob um sol inclemente e calor extremo, enquanto remanescentes guaranis bebiam Coca-Cola e vendiam artesanatos.O resto do dia foi estrada.

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